quarta-feira, 12 de setembro de 2018

TRISTE ENCONTRO

 

Quem tem mania de escrever não precisa de motivo, sai escrevendo onde possível for, para ninguém ler Alguém precisa fazê-lo? O prazer da leitura ao réles escrevinhador retorna e a si mesmo basta.
O único mistério que se revela insondável desses rompantes é o encontro com velhos papéis, quando a sua letra corre por linhas e mais linhas e a dúvida surge. Eu escrevi ? Copiei? De quem? Está tão bonito... Essa angústia tem jeito do Pessoa, essa leveza do Quintana, essa quase prece da Adélia Prado.
Esse texto deve ser meu. Está bom demais, não deve ser. Mas você não deixaria no papel sem autor. Logo você? Duvido. Mesmo que fosse um anônimo registraria seu anonimato. Por que não? Achou bonito, sem dono, copiou e guardou. Feliz ou infelizmente reencontrou.
Danou-se... Se for meu, perdi.
Porém há queridas descobertas, apesar de tristes, muito tristes, como a escrita a lápis na primeira página arrancada de um livro que só agora, após tantos anos dentro de um caderno encontrei.
* Comprado em um jornaleiro da Praça Saens Pena pelo preço de um real - 4 pães ou meio maço de cigarros - num dia de plantão no Hospital Gaffree Guinle, onde meu pai está morrendo. (Dez/2004).

Edmund Blair Leighton (1853-1922)
Terê Oliva