quinta-feira, 17 de abril de 2014

FANTASMAS ANDARILHOS

A noite corria alta e silenciosa no grande sobrado. 
Sabia-se ser muito tarde quando tudo aconteceu porque a família não tinha prazeres em camas e sonos. Os filmes, livros e conversas, esticavam-se até as ordens frenéticas da mãe que lembrava aos quatro irmãos a escola no dia seguinte, ficando ela mesma e o pai mais um tanto.
O frio imobilizava a todos e induzia ao sono sob forma de cobertor, meias de lã, pijamas de flanela e leite quente com mel antes de subir aos quartos, mesmo que sem vontade.
Nesse silêncio de escuridão a filha foi acordada por passos no corredor que interligava os três quartos. Quase sem se mover, e munindo-se de coragem, baixinho chamou a irmã, que para sua surpresa já havia também acordado e exibia os olhos arregalados em sua direção.
_ Tem gente aí, disse num sussurro. Algum ladrão entrou na casa.
_ Pode ser fantasma, sugeriu a caçula, desde sempre apaixonada por histórias de terror.
_ Que fantasma que nada. Mas no fundo, sua cabeça girou como um dínamo e lembrou-se das mortes recentes ocorridas na família. Um primo jovem tão querido, quase namorado com quem brincara de médico e uma tia velha. Seria mensagem do além? Bobagem!
Pé ante pé levantou-se e foi conferir. Quando olhou o comprido corredor, viu seus dois irmãos também à porta do quarto da frente, e os pais no quarto dos fundos. Todos observando o estranho ser, vestido de branco, que caminhava com ruídos de outro mundo.
Por um minuto ninguém sabia o que fazer, olhando uns para os outros, cada qual dando asas à imaginação sem nada concluir de racional.
O grande mistério se revelou quando o pai, com um simples toque acendeu a luz e a boneca Andinha, vestida de noiva, deu mais um passo.

Artista plástico (Esculturas e Bonecos) - Dustin Poche.
Terê Oliva.
http://tereoliva.blogspot.com.br