quinta-feira, 19 de setembro de 2013

AS ESTRELAS NO CASCO DA TARTARUGA


No íntimo da tarde fria as estrelas surgem lentamente
Sobre o casco de uma tartaruga velha , que por sábia, arrasta-se em seus vagares
Trazendo a noite que se assim não fosse, em hordas de solidão logo despencaria.
No jardim, entre as margaridas que desprezam os ruídos de sua existência
Ela para e me olha em suas pupilas opacas como se houvesse algo a dizer.
Talvez haja, talvez não.

As profundezas vazias do olhar dos bichos 
Contém enigmas de paz que a alma humana não decifra 
Muito menos a minha, perdida dentro do meu corpo findo
Que mal vê as agulhas do norte na ponta do próprio nariz.
Sentada em vime, na varanda permaneço a observá-la
Medindo seu passo e o tempo que ela sobreviverá a mim.

Tela de Jean Michel Bénier - 1949 - Pintor Francês.
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

CINZAS DA FOLIA



Deixei as horas arranharem as pontas dos meus dedos
Enquanto as recolhia do livro, na celeridade das areias de um tempo morto.
No silêncio, a mulher que escreve ri, um riso escandaloso diante das cinzas da folia.
Ela me olha de fora e, uma a uma, retira suas máscaras do último carnaval.
Abrigo-me no longo cansaço de fazer e refazer sem nunca pronto, mas ela, tal qual criança, arrasta a cadeira e caio ao chão.
Seu olhar me ergue.
Não gosto de admitir toda a minha esterilidade 
Todo em vão que adensa em minha pele e carne, que fura meus ossos.
Desconhecendo o querer, a frouxidão me faz o tato áspero ao deslizar na imaginação que se apaga.
Ela, cortesã das emoções soterradas, nesse estagnar também esvaece e me esquece no papel em branco.

Tela de Ivan Vladmirov - 1869/1947- Pintor Lituano.
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br