quarta-feira, 30 de novembro de 2011

COBERTOR DE POETA.

" Que há com a maioria dos poetas que tanto fogem da vida acobertando-se com as palavras? Que há com a vida que tanto assusta a esses poetas?"
Aníbal Monteiro Machado.

A vida não assusta àqueles que tem sensibilidade para olhá-la nos olhos
e nesse olhar se fartar. Apenas entedia.
As palavras, para quem as ama, se revelam mais confiáveis e interessantes
que muitas pessoas.
Teresinha Oliveira.


Tela de Gustave Caillebotte - (1848/1894)
Pintor Francês.

domingo, 27 de novembro de 2011

ADEUS.

Eu.
Sem lenço
Sem lágrima
Sem fibra, sem certeza
Somente com uma acetinada dor
De saudade do que nunca foi
Me abandono às marés...

Canto o adeus com frieza nas pupilas
Por ser este meu dardo
De suave ironia ante a sina
Às artimanhas do equivocado destino
Que ao mar me lançou.
Canto o adeus como se de roda ciranda fosse
E, menina atrevo-me
A engatinhar para fora de mim.


Tela de Adriano Bonifazi - (1858/1914)
Pintor Italiano.

Teresinha Oliveira.

sábado, 26 de novembro de 2011

CANÇÃOZINHA BOBA QUE UM JOVEM AMOR NUNCA A CANTOU.

Se você olhar p'ra mim
Não olhe assim...

Não me faça supor que o vento, o mar
São só de nós dois
E o vôo que alça o meu coração é amor.

Se você sorrir p'ra mim
Não sorria assim...

Seu jeito menino me faz esquecer
Que a razão tem razão.
Não pode ser.

Se você tocar em mim
Não toque assim...

O calor do seu corpo incendeia o meu.
A febre vai consumir a intenção
No calor vou me perder.

Vou me perder na paixão, enlouquecer...
Entregar a Deus o destino e correr atrás de você.


Tela de Giuseppe Dangelico Pino - (1939/2010)
Pintor Italiano.

Teresinha Oliveira.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

FACEBOOK

Bom-dia, boa-tarde, boa-noite. Beijos para todos vocês, meus íntimos e queridíssimos amigos. Calma aí, vou tomar um cafesinho e já volto. 
Desejo que todos tenham um dia maravilhoso. Peraí, o telefone está tocando...Volto já!
Foi engano. Voltei! Sempre estou por aqui com a minha energia positiva, expalhando bom humor e um insuportável otimismo com todos, conhecidos e desconhecidos de longa data.
Pôxa! Minha unha quebrou. Dá um tempinho que vou lichá-la, mas já volto!
Voltei! O sol hoje está brilhando, e brilhará sempre para aquele que acredita num dia melhor. Ops! Esqueci a panela de pressão no fogo, vou lá dar uma olhadinha antes que esploda, mas já volto.
Voltei! Esperem-me, só mais um pouquinho...Esqueci do almoço. Vou fazer uma macarronada para o maridão. Ele adora.
Voltei! Para dizer que a vida é cheia de surprezas, e há sempre algo de bom nos aquardando. Hora do lanche dos meninos. Já volto!
Voltei! Hora de fazer a janta. Já volto.
Voltei! Hora do banho. Já volto.
Voltei! Hora de limpar o côco do cachorro. Já volto.
Voltei! O que estávamos falando mermo?


Tela de Frank Taylor Lockwood - (1895/1961)
Pintor Inglês

Terê Oliva

terça-feira, 22 de novembro de 2011

VÃ POESIA.

O cansaço derrete meus membros
E o desânimo pelo já dito quebra o grafite.

Como é vã a poesia
Sem os rigores da dor.


Tela de Ramon Casas i Carbó - (1866/1932)
Pintor Modernista Espanhol.

Teresinha Oliveira.

COSMO E CAOS

Quando cada um de nós
Com tempo para pensar o tempo
Inesgotável escuridão
Se debruça na própria alma e calma
Sentindo a unidade que se é
No Universo de Deus que talvez haja
Parte integrante do cosmo e do caos.

Sem ser por ser ínfimo
Átomo, quiçá de estrela
Sendo por ser parte
Sem a qual o Todo não seria

Encara o grande mistério
O paradoxo da própria existência
Onde o destino se cumpre.

Tela de Olga Suvorova - 1966
Óleo - (93x115 cm.)
Pintora Contemporânea Russa

Terê Oliva

TORTUOSAS TRILHAS.

São tortuosos os caminhos que a ti conduzem.
Nos vãos da vida, sozinho te ocultas.
 Um emaranhado de dias e nós da tua ampulheta ilógica escoam
Como se cada grão de areia fosse ao mar primaz devolvido
No bico de uma gaivota ligeira, que no frenesi do vôo perde-se
Arremessada às rochas pelos ventos vorazes
Que escapam de teus cabelos prenhes de loucura.


Expias o dom da vida como se viver pecado fosse.
A todos estampa com ariscas pinceladas, numa tela surreal sem moldura
Pendurada sobre tua cama sem sonos.
As imagens, cada vez mais pálidas evaporam
Através de teus dedos magros e líquidos.


Não suporto a dor da fuga, a camuflagem da indiferença.
O que temes?
A intensidade do meu amor ou a inexistência do teu?
A paliçada é firme e minhas escadas frágeis
Como frágil é meu corpo ao galgá-las.


Visto armadura e moldo asas com cera e cerdas.
Sobrevôo os porões de tua alma com um gosto agridoce na boca
Buscando lembranças aliadas de um tempo esgotado.
Ícaro metálico com medo do sol, me arrisco.
Artesã de afetos sem solo para fincar os pés 
E ofertar, em minhas mãos de hiatos, um renascido desejo.



Tela de Siegfried Zademack - (1952)
Pintor Alemão Contemporâneo.

Teresinha Oliveira. 

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VIDRAÇA.


Recolher os cacos da vidraça quebrada
Que não veda vendaval ou da chuva protege

Arear tacho que na abrasão do brilho
Quebra unha e resseca mão no toque

Varrer os resquícios que se dançou e gargalhou festa
Do chão de pedras em diagonal forrado

Destruída cabana, tijolos e telhas
Que na tolice do amor de outrora se ergueu.


Tela de Vincenzo Irolli - (1860/1942)
Pintor Italiano.

Teresinha Oliveira / 1996




quinta-feira, 17 de novembro de 2011

HORAS CLARAS

Sono leve que voa, como o pelo da barba que arranco
Da face irônica de Morfeu
Deus muito velho que em suas rugas emaranha
As horas que deveria embalar.

Miro seus olhos mortiços e dele me vingo.
Traço versos, novas assinaturas com letra bonita
Ao encontrar folha virgem no caderno
Em algum canto da casa por criança abandonado.

Escrevo por escrever, ato mecânico
Ao polinizar grafite nos campos brancos
Calando na mente objetivo, intenção de dizer.
Tolo prazer, como tolo era o poema que morreu antes mesmo de nascer.

Tantas palavras cantigas chegam sozinhas...Sabotada beleza
Que esvanecem dia a dia nas bocas sem cuidado
Com línguas à Língua arrasar
Sem respeito, menor cerimônia.

Canto para Morfeu que já boceja e me espreita
Ciranda com palavras de mãos dadas girando:
Estrondo de trovão - Fio afiado de facão
Cheiro de chuva no chão - Estrela, espinho, esturjão.

Brincadeira divertida para quem o sono espera
Nessas horas impróprias de silêncio obrigatório.


Tela de Richard Edward Miller - (1875/1943)
Pintor Impressionista Americano.

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com


TEMPORAL.

Como se o céu bem zangado
Dos ímpios quizesse
As almas salvar
Raivoso desaba.
Qual lavadeira teimosa
Com mancha amarela
Que em seu capricho tenta
Dos rios as águas esgotar.

Cai a chuva sem trégua
E a todos imobiliza.
Guarda-chuvas inúteis se rendem.
Pessoas se encolhem nas portas de bar.
Cheiro de chuva
De suores da gente mal limpa
Desodorante barato na labuta já gasto
Logo se espalha.

Todos ali permanecem
Unidos na fé do logo passar.
As nuvens trabalham
Cumprem missão.
Como se anjos meninos
Infernais querubins
Despejassem de seus cântaros
Água fria nos pobres mortais.

Mais mortais que costume
Sob corrompidas marquises
Que prever desastre ninguém parece.
Orações murmuradas
Sob relâmpagos e trovões
Rogam a Deus, Santa Bárbara
Iansã para alguns.
Muitos outros, amor de vela e promessa.

A natureza brinca
Com as forças do céu.
Estremece ruas, rola pedras, escurece o dia
Ante o medo geral de raio e afogados.
Se diverte com os homens molhados
No futuro breve resfriados
Que impacientes esperam
As águas secarem para da vida cuidar.


Tela de Manuel Lopez Herrera  (1946)
Pintor Contemporâneo Espanhol.

Teresinha Oliveira.





sábado, 12 de novembro de 2011

PAREDÃO

 Paredes retas
Em prumo cuidado
A me guardar.

Retas paredes
Tijolos prisão
Casa em escombros.

Paredes retas
  Alcova fria
Cama desfeita.

Retas paredes
Silenciosa cela
Amor prisioneiro.

Paredes retas
Outrora lar
Pintado de riso.

Retas paredes
Células em dor
Metástase.

Paredes retas
Rachaduras
Esperançando luar.

Retas paredes
Nunca tortas
Dentro de mim.


Tela de Ryszard Chmiel
Pintor e Ilustrador Polonês.

Terê Oliva


ÁGUA E SABÃO




Minha casa sufoca no pó que aqui repousa
Sem o viço e perfume de outrora.
As aranhas tecem suas teias e, incólumes
Passeiam por onde bem entendem.

A dor elétrica de minha face amarra meus braços
Dispara lancinantes choques, imobilizando-me
Nas simples tarefas de água e sabão que tudo lava.


O agrilhoar do sofá me fere a vontade de vassouras
Troco-as por livros, filmes, inércia
Porque a dor assim se acalma e até perde o motivo.

Tela de Denys George Welles - (1881/1973)
Pintor Britânico.

Terê Oliva