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O espanto do meu silêncio fica boquiaberto ante os pensamentos que aos borbotões caem da minha cabeça pelo chão que piso 
Também espalham-se eles pelas cidades da Itália onde nunca fui 
Pelas faces das crianças em preto e branco, já mortas, que alguém eternizou em velhas fotografias 
Pela ameaça da moderna guerra fria, mísseis, química, nações que se desafiam a ver quem cospe mais longe. 
 
Nessa mirídea de imagens e lembranças que assolam meu espírito, quedo-me e cerro os olhos para melhor ver. 
Entremeando fios meus pensamentos vão longe, chegando à beira da sanidade e da lógica 
Ante o barulho dos canhões, as cólicas da fome, o tiro que quebra o osso da perna do inocente e impede a fuga 
 A sedução do poder que revela o algoz ao atar o nó da doença e da miséria 
O escárnio dos fortes ao mirar o fraco que chafurda nos excrementos a céu aberto. 
 
Arrastam-me assim tais ideias para um patíbulo de ódio, onde minha mão treme e se compraz de vingança na alavanca 
Que solta a mola e quebra o pescoço de tantos à minha mercê. 
Porém a ternura quase palpável de um abraço, uma tela de Bouguereau, riso de criança, afago de cão 
A paradoxal beleza de um inseto monstruoso, a violência de um mar de naufrágios 
Serenam minha mente que nesse turbilhão se perderia não fosse a vontade de compreender cada reflexo do mundo. 
 
Sentada num canto sem olhar para nada além do espaço vazio, tais emoções solidificam-se e quase posso tocá-las com a ponta do dedo 
Enquanto desfilam nessa interminável procissão de santos e demônios que me paralisam com suas perspectivas. 
Deveria eu estar imune a tal e tanto, coerente comigo mesma, com meu jeito manso de deixar para o depois entre os livros 
Que desde menina contam-me em milhares e milhares de páginas suas histórias 
Onde, verdadeiras ou não, o mal e o bem nunca são absolutos e 
Degladiam entre si até o ponto final. 
 
"Femme Fatale"  
Andor Novak - 1897/ ? - Pintor Simbolista Húngaro. | 
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com