Deixei as horas arranharem as pontas dos meus dedos 
Enquanto as recolhia do livro, na celeridade das areias de um tempo morto. 
No silêncio, a mulher que escreve ri, um riso escandaloso diante das cinzas da folia. 
Ela me olha de fora e, uma a uma, retira suas máscaras do último carnaval. 
Abrigo-me no longo cansaço de fazer e refazer sem nunca pronto, mas ela, tal qual criança, arrasta a cadeira e caio ao chão. 
Seu olhar me ergue. 
Não gosto de admitir toda a minha esterilidade  
Todo em vão que adensa em minha pele e carne, que fura meus ossos. 
Desconhecendo o querer, a frouxidão me faz o tato áspero ao deslizar na imaginação que se apaga. 
Ela, cortesã das emoções soterradas, nesse estagnar também esvaece e me esquece no papel em branco. 
 
Tela de Ivan Vladmirov - 1869/1947- Pintor Lituano. 
Terê Oliva 
http://tereoliva.blogspot.com.br 
 
 
 
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