quarta-feira, 17 de outubro de 2012

VENTO, VENTANIA, VENDAVAL....

     Josefine ama o vento. Desde sempre.
Amor antigo, de todos estranhado, principalmente por sua aparência delgada que seduz o amante a levá-la em seus braços de ar ao alto das nuvens, como se um anjo fosse.
Vento é malvado. Quando se encrespa de raiva destrói tudo à frente, espalha fogo, arranca árvore e vira barco no mar.
Mas paixão não se explica, nem mesmo para o próprio umbigo, quiçá para gente intrometida que na vida dos outros se mete e pede explicação de assunto inexplicável.
Dele criança ela aceita travessuras, não ralha nem fica de mal quando brinca de roda em seus cabelos, ou lhe levanta as saias só para contar a todos a cor que a guarda entre as coxas.
Namorado briga, fica com ciúme, maldiz a natureza que expõe suas pernas bonitas e a cor íntima que só a ele pertence saber. Ela sorri e perdoa, ao vento e ao namorado.
O amor inteiro dessa moça fina explode no galope da tormenta, que arranha seu coração no furor e na pressa de caminho. 

Sem medo ela encara o perigo em campo aberto, e só não arranca as roupas e fica nua para saborear seus beijos porque lugar para luxuriante entrega não há no seu cercado de vida.
Para muitos é difícil compreender a agudeza de cio que a corrompe ante o vento invisível, porém Josefine o olha nos olhos e o deixa abraçá-la sentindo o viril senhor, deus de alguma mitologia antiga, que por não existir, seu corpo sacia.

Tela de Sheree Valentine Daine - 1956
Pintora Britânica Contemporânea.

Terê Oliva

Um comentário:

Andradarte disse...

BELÍSSIMO TEXTO...
Beijo