Eu desisto. 
Abandono na ardência do meu íntimo as questões que não posso adoçar 
Com poesia de rimas e palavras de láudano. 
Versos azuis de céu que não me cobre. 
Não mais escrevo 
Nem divido poemas com quem falta a cáustica arrogância para perceber 
Que amor é tema pobre que na juventude morre, por sem força para além  sobreviver. 
 
Esse amor que nas sombras da tinta se mostra um titã 
Ao percorrer páginas e mais páginas que deleitam aos incautos 
Com a fragrância das flores moribundas e a eternidade de horas findas 
Não convence a ninguém que nos teares da poesia 
Engolfa-se nos gestos inúteis da sua dor descabida. 
 
Tentei as rimas pobres, os vocábulos mansos que tanto agradam a gregos e troianos 
A cremosidade desse mingau que é servido com sabor inalterado a cada estrofe 
Variado apenas no pó da canela ou nas colheradas de açúcar. 
Fracassei, perdida nesse mar brando que não me desafia os músculos 
Não me lava nem me apoquenta o espírito. 
 
Sem tal, meus grafites se quebram como gravetos no vendaval e os papéis nele voam como aves assustadas. 
Perco o sólido da matéria e a fímbria do motivo.  
A mão murcha e se esconde no meu bolso furado. 
 
Tela de Julius Viktor Berger - 1850/1902 - Pintor Austríaco. 
 
Terê Oliva 
 
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