terça-feira, 17 de julho de 2012

REJEITADAS PALAVRAS

Tela de Alex de Andreis - (1871/1939)
Pintor Belga.

Mania moderna de economizar palavra. Escritor,poeta, contador de histórias e casos...  Ninguém quer gastar a coitada que veio trazida nas ondas do mar, bebeu cicuta, suou no deserto, ganhou letra, perdeu acento, fugiu antes de ser comida pelos canibais, gastou o w e o y nas rochas da viagem.
 Metamorfoseou-se -esse verbo existe?- ao gosto dos irmãos de além-mar, brancos e negros, ao nosso também, tropicais pobres de ouro e cultura. 
Algumas sofreram abuso nas mão dos gramáticos. Perderam o trema que enrugou, ficou velho e sem atrativos, e foi assim, sem direito à pensão, jogado na sarjeta.
Enlouqueceram o hífen com as novas regras da ditadura.
Tira ou põe, põe ou tira? Tira, põe, tira, põe...Sexo gramatical que não leva ninguém ao gozo. Só ao dicionário, que como pai das meninas, também não chegou ainda à decisão final. Uma hora diz sim, outra diz não.
Antes eram bonitas, bem vestidas como para ir à missa de domingo.  Agora, na fila indiana do dicionário são encaradas por aqueles que mais deveriam amá-las como excedentes, intrusas.
Cuidado com os adjetivos, diz a placa fincada à margem das areias da poesia. Ele é atraente e facilmente seduz entre os versos e transversos dessas trilhas, porém ao enfeitar qualquer eira e beira, revelará ao mundo seu talento inexistente, parco, escasso,acanhado, exíguo, limitado, magro...
Palavras, palavras
Ninguém as quer porque alargam o texto, engordam o olho do leitor que no arfar da obesidade preguiçosa desiste no percurso das páginas, sem observar a paisagem do caminho.
Que haja flor, que haja regato com peixes e sapos. Que haja lama, folha de árvore, tornozelo rachado, banho de amantes nus, cópulas à beira d'água, sangue, formiga que morde, lágrima, morte, mãos, assassinatos, e tudo mais além da imaginação.
É aí que está nossa 'imagem e semelhança' divina. Criadores que não se esgotam em sete dias.

Ninguém vai me rechear o espírito com três versos curtos ou me saciar com um prematuro ponto final.
Eu, leitora ávida, quero saber entre vírgulas, a completude da história.
Tela de Georges Croegaert - (1848/1923)
Pintor Belga.

Terê Oliva

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