quarta-feira, 3 de julho de 2013

A AMANTE

Tela de Pierre Puvis de Chavannes - 1824/1898
Pintor Francês.

Comeram um pedaço da lua
O que restou da engolida treme num céu de meia-noite.

Na perseverança dessa escuridão uma sombra de vestido longo soluça.
A amante, personagem de um triângulo escaleno, onde lhe cabe a menor quina

Chora uma tristeza comprida que não tem mais por onde se espalhar
A não ser nesses campos de breu onde a verdade se desnuda e mostra as unhas
No brilho das estrelas mortas, anos-luz distantes.


Tão humilde que chega a ser casta
Tal mulher nessas estranhas horas caminha
Alucinada pelas visões das lâminas da guilhotina
Que ameaçam seu pescoço roxo de beijos proibidos.


Num cansaço absoluto desiste do amor indivisível.
Que a outra o consuma e lamba
Dentro da circunferência de ouro que um sacerdote traçou entre bençãos e promessas eternas
Por Deus in loco sacramentadas correntes.


Que sejam dela os dias festivos, as hordas de olhares de repúdio e aconchego
A saúde e a doença, a riqueza e a pobreza
Os gemidos do sexo, os braços dados na velhice

O para sempre que se desfaz no tempo da primeira esquina.

Um fiapo de luar rascante lhe basta
Para sob ele, leve de remorsos, caminhar sozinha.
Tela de William Powell Frith - 1819/1909
Pintor Inglês.

Terê Oliva

http://tereoliva.blogspot.com.br

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