domingo, 21 de julho de 2013

O ACENTO DO PORQUE



   A Língua é ser vivo e por assim o ser, sai saracoteando por ai, de braços dados com qualquer um. Não escolhe par, nem tem cuidados com quem a conduz, é vadia e meretriz. Levanta as saias pelos becos e só se faz de difícil com quem por ela tem paixão.Despreza àqueles que a amam e deles se esconde atrás dos paredões da gramática.
   Nisso tudo penso enquanto escorrego no chão do texto.

Esse porque tem acento? Pergunto a um e outro
Gente íntima do Sr. Português, cafezinhos e longas conversas.
- Eu acho que tem, eu acho que não.
- Ora, Dona Moça, tem acento por isso e por aquilo.
- Mas que coisa, Terê. Que construção maluca é essa que inventaste?
- Esse porque, sob tanta tralha, não mostra a cara.
Calma, amigo. Calma amiga.
Culpa não tenho se ele assim insurgiu. Se colocou máscara de bandido, não fui eu quem lhe deu o nó às costas.
Ele apareceu de supetão e não pode sair, se não a ideia desmorona.
- Escreve de outro jeito.
Não quero. Não posso. Não devo.
Quero o meu porque, com circunflexo ou não.
- Deixa de ser chata. Acentua e pronto. Você gosta tanto dos acentos... Ficou até deprimida quando mataram o trema.
Mas e se não for acentuado?
- Então não acentua.
Mas e se for acentuado?


"Johan Joachim Winckemann"
Tela de Maria Anna C. Angelika Kaufmann - 1741/1807
Pintora Suíça.

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br

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