quarta-feira, 24 de julho de 2013

O PALADAR

Tela de Nina Reznichenko
Pintora Ucraniana Contemporânea.
O paladar do dia entrou-me pelos olhos como se fosse calda doce
Das peras do meu quintal
Na infância perdida onde um verde sonho morava ao lado.
Há muito não havia uma manhã como essa, clara e bem nutrida de sol.
As pessoas na rua passeiam, os cães sorriem e os pássaros cantam bons-dias aos que tem ouvidos para escutá-los.
Tanta harmonia cansa.
Tais imagens carregam em seu estofo o tédio dos anseios sobre quais me debruço.
O futuro não existe ainda, esconde-se sob as rochas do desconhecido e por tal não ouso desejá-lo
Nos afãs da esperança trancada em sua caixa de ouro.
O passado já escapou dos meus dedos e não volta, porque como as águas de um rio
Quando voltam depois da curva, são novas.
O presente enrijece meu passo e desfaz meu querer possível por sabê-lo outro.
Canto salmos e a Deus, talvez inexistente, desfio meu rosário de remendados pedidos :
Que no vulgo viés do meu caminho eu encontre a razão de tudo isso.
Tela de August Staff Gillé - 1892/1989
Pintor Belga.


Terê Oliva


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