terça-feira, 20 de agosto de 2013

OS DETALHES DO SILÊNCIO


Nossa ganância caminhava à frente, sem freios, e sorríamos dela no abstrato de nossa juventude

Tanto queríamos, tanto maior que o possível, o real...
Sem nos medirmos, sem percebermos um no outro mais do que a fraca convulsão que nos satisfazia.
Nem quando éramos felizes o éramos, mas isso não sabíamos então
Porque nosso dentro era  fora, e nem a nós mesmos enchíamos com o pouco que restara das andanças de braços dados.
O tempo esgotou-nos e nossa atenção minguava a cada olhar para o interior de nossas próprias janelas.
Nossos desejos não mais valiam a pena ao serem desejados, por raquíticos da desnutição sem cura
A esse nada valer juntou-se as coisas todas, do mínimo ao máximo, do alpha ao omega.
Ante essa descoberta, veio uma tristeza longínqua do alheamento que nos apartava
Horas de tédio, paisagens dissolvidas no éter dos erros, sentimentos esgotados.
Sabíamos, sem a consciência dos fortes, que nossa vida não mais existia além do hábito das formas
Porém mesmo assim a gozávamos, acarinhando a monotonia como a um bicho de estimação, que não se ama mas também não se odeia.

Água e pão para tanto basta.
No exílio espesso em que nos refugiamos, cada qual em seu mar, não construímos navios e nem os desejávamos
Nossa inércia não carecia de bandeiras, a si mesma bastava nas sombras da alcova, onde o pé gelado
Revelava a ilusão do outro, do próprio ser que nada mais era do que um eco distorcido de si mesmo.
De repente, sem mais motivos além da verdade nua e crua, a despedida se consumou entre fotografias rasgadas
Cartas sem sentido e palavras de açoite e álcool.

Logo os ruídos da ausência repercutiam através dos cômodos, como se os cacos de uma xícara caída ao chão
Ricocheteassem o som do inverno pelas paredes de uma causa perdida.
Pouco restou além disso na vida de então.

"L'Homme Endormi" (1861)
Charles Auguste Émile Caroles Duran - 1837/1917
Pintor Francês.

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com

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