quarta-feira, 23 de outubro de 2013

FEITICEIRA MORENA

Tela de Henry Wallis - 1830/ 1916 - Pintor Inglês.
 A tristeza é uma feiticeira morena que arrasta pelas pernas os quereres inertes, que sem ela, morreriam de vez sem nem perceber.
Pelo menos ela os belisca vez ou outra e tal os mantém vivos, apesar da agonia.
Senta-se à borda da taça da noite e ali permanece
A olhar-me como se esperasse o movimento das minhas mãos a enxotá-la 
Tal qual se faz  com os pombos quando invadem o quintal, em busca das migalhas de pão que voaram da mesa no café da manhã.
Não se vai assim logo 
Porque sua pressa repousa nas asas de um pássaro negro que canta enquanto ela elege seus desígnos.

Esgotaram-se as horas de espera
Horas que  doeram em minhas pernas cansadas, sem onde sentar.
O teto, onde a paisagem se repete intermitentemente, cemitério de navios naufragados
Revela o mar que ondula nas falhas da tinta, sem ondas, sem sal.
Nem as luzes da madrugada riscam um caminho
Trilhas emaranhadas se cortam e entrecortam como cicatrizes do acidente de viver.
Há tão pouco ainda a tentar.
Na argila da minha descrença em tudo, moldo meu espírito e levanto da cama
Tentando esquecer aquela que não sou.



Tela de Jean Beraud - 1849/ 1935 - Pintor Francês

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br

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