quinta-feira, 9 de maio de 2013

MULHERES CARIOCAS ♀ MARIA TERESA

Tela de Charles Dwyer ( Nasc.1961)
Pintor Americano Contemporâneo.

Maria Teresa se foi. 

Foi para perto, casa de mãe onde sempre cabe filho e quem mais ele gerou.
Demorou anos exilando os motivos, porém numa ousadia que não era de seus feitios, descerrou os olhos verdes que tudo viam, mas que atrás de si mesmos ocultavam as paredes carcomidas do que julgava lar e há muito não era.
Como é próprio de toda mulher ao perceber amor minguado, exibiu-se na transparência da camisola, espargiu fragrância onde queria beijo, enfeitou quarto e seios com flor e renda, estourou o champanhe preferido, abriu janelas para a noite e para o amor entrar.
Depois de tanto feito e perfeito, esperou. E esperou...
Seu homem distraído nem percebeu as amorosas minúcias, preso nas esquinas da fuga que diante da paixão perdida, nem a ele mesmo se revelava.
Quando chegou, bebeu o vinho, mal falou e nada escutou.
Maria Teresa partiu com mala e cuia, arrastando criança pela mão; porém, como amor é bicho matreiro que onde perde perna cria outra, voltou depressa com promessa de vida nova e amor antigo.
Mirar o fim, face a face, Maria Teresa não queria. 

Reconstruir demora, dá calo na mão e dor nas costas, e empilhar tijolos no fio exige paciência que ela sabia esgotada. Melhor perambular estática nos caminhos conhecidos do que dar passo em falso e quebrar tornozelo no buraco fundo que se abria à frente. Mascarar o fracasso é menos sofrido que revirar emoções com lupa e olhar de agulha.
Não sabia onde começara o fim porque fim é assim mesmo, espera agachado na treva que resta e bem se esconde até o raio do impossível lhe iluminar o esconderijo. 

Ela o percebera nas miudezas da rotina fria, nos beijos mortos e no sexo corrompido, porém tanto lhe doía tocar-lhe a face que preferia cruzar os braços e abrir as pernas.
Num romper de dia afinal, quitou o passado com moedas de ouro e desistiu.
Entregou os pontos, cada um que cosera à beira das lágrimas nessa colcha de promessas que puíram nos desacertos da esperança. 
Partiu sem eira nem beira, agarrada nas coragens das próprias saias. 
Foi atrás da manhã de dia seguinte ansiando pela mulher que fora, antes de enjaulada na sensação de asfixia, de cansaço dormindo nos afagos do sempre.
Assim quem sabe a outra, ela agora, pudesse escrever poesia.
Tela de Malcolm Lipke - Nasc.1953
Pintor Americano Contemporâneo.

Terê Oliva

http://tereoliva.blogspot.com.br

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