Tela de Bronnikov Fedor Andreevich - 1827/1902 Pintor Russo.
Tomava café no botequim da esquina o homem de educação elegante. Parecia pertencer a uma geração que herdou os rapapés de antepassados Enricados numa vida de luvas e polainas. No redemoinho de olhares que sua presença provocava Havia um espanto silencioso ante sua inadequada figura Naquele salão de café com leite e pão com manteiga. A manhã fria que, antes que comece o dia, começa em nós o inverno Mantém a todos num mortiço calor de curiosidade. Tinha ele uma tristeza no gesto que chamava atenção. Não dessas tristezas comuns que carregamos às costas Todos nós, meio corcundas nas árias negras de nossos enganos. Era um desconsolo de pormenores, filtrado pela ternura da solidão. Em mim, a imaginação que em seus relâmpagos ultrapassa
Os limites do provável, até mesmo do meramente possível
Logo se pôs a pensar nos solavancos da vida de tão belo homem.
Nesse carrossel de hipóteses fiquei tonta, absorvida por uma dor que não era minha.
À minha, dei um requintado excesso para que assim, tão funda
Parecesse irreal e menos doesse no exagero.
Nesses irrequietos pensamentos de compreender o que na verdade não poderia
Surge uma dúvida entre o último gole de café e o cigarro:
Éramos dois sujeitos, ou simplesmente duas formas distintas de um? |
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