domingo, 11 de março de 2012

NA GARUPA DE UM LIVRO-2

Escorregando pelos devaneios o livro cai ao chão, como para avisar que está vivo. Porém, mais vivaz encontra-se a viajante que ele mesmo muniu de malas para imaginar o tempo restante.
Uma década é boa sobra para se viver. Dá para fazer muita coisa, ou o quase nada que se quer ainda. O que desejo de verdade só chegará depois mesmo, se é que um dia vai chegar.
Uma linda jovem arrancando com seu carro, o veloz que não possuí apesar de tanto querer, dando adeus com os lindos cabelos ao vento e sua gargalhada irresistível. Melhor adeus não há.
Outra, com os cachos morenos domados pelo amor em longos véus, no átrio da igreja que resplandece ante seus olhos quase verdes. Noiva rica e branca.

Ela com certeza vai casar; está no sangue esse brinde de amor eterno que leva ao altar.
Muitos mais, maduros como fruta boa, bonitos, felizes todos e cada um no seu jeito de felicidade. Talvez não o meu, cuja receita padrão a eles não seduz.
Eu, encarquilhada e lenta, talvez chore. Tomara! Preciso gastar as lágrimas que não gastei, nem em enterro ou em filme triste que a todos debulha. Mas a essa miragem não tocarei concreta, nem eu nem a miragem. Oitenta, em mim,  é ano demais e muita velhice; não tenho nervos para tanto. Setenta vívidos já é sorte nessa matemática suposta.
O torpor se esvai e o sol traz um cheiro de café que desperta o livro com tanto ainda a contar, história luzindo como pérola que logo deixo para depois.
     Vou sacudir o meu dia e vivê-lo no meu estilo real.  Melhor assim, apesar de não o ser, ou talvez até sendo.



Tela de Federico Faruffini  - (1833-1869)
Pintor Italiano.



Teresinha Oliveira.   

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