sábado, 2 de fevereiro de 2013

RIMAS DE AR.




Sairei pelas páginas rimando amor com flor.
Usarei somente verbos da primeira conjugação. 

Para quem não sabe, os que terminam em AR.
Ar com ar fica mais fácil rimar e não dá angústia no sentir e pensar.
Lerei livro de auto-ajuda para a alma afiar, poesia para o corpo brilhar.
Amarei um amor desembestado, que me levará aos píncaros do para sempre, onde é impossível se equilibrar.
Mirarei estrela, conversarei com a lua, olharei céu até quase cegar.
Beijarei um beijo tão doce que vai dar enjoo até nos estômagos incapazes de enjoar.

Medirei saudade com fita métrica, lonjura pelo batom ainda a gastar.
Segredarei indiscrições, fetiches, pecados, que a ninguém além do verso vou revelar.
Esticarei lençóis de linho, talvez de cetim onde é mais prazeroso copular.
Beberei champanhe num copo de leite. A flor... Fica mais bonito, apesar do risco de engasgar.
Encontrarei minha veia piegas e a deixarei sangrar.
Publicarei um livro de poesias e o venderei aos milhares, até enricar.

Ilustração de Robert G. Harris (1911/2007) - EUA.

Teresinha Oliveira.


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