quinta-feira, 16 de junho de 2011

NAMORADO IMAGINÁRIO

     Cada um tem seu estilo e seu jeito personalíssimo de ser. Felizmente assim o é, se não, o marasmo embaçaria os relacionamentos humanos e tornaria insuportável a convivência, quiçá a propagação da espécie.
     Óbvio que existem, para cada um de nós com sua medida e peso, o excludente. Aquele que, portador de um defeito específico, é-nos antipático a cada célula. Paradoxalmente, muitas vezes,  a falha do outro é justamente o que o torna sedutor e desejável. Os excêntricos e os estrambóticos talvez aí se encaixem.
     Como estamos na semana dos namorados, de Santo Antonio, de simpatias, mandingas e até feitiços para  encontrar um dito-cujo que nos ame, ou pelo menos tente, chegou a hora de tipificar o sujeito.
     As mulheres sempre escolhem seu homem perfeito num lúdico imaginário, onde raras vezes determinam características físicas, à exceção de alto, quase unânime. Mas alto é relativo à altura da moçoila, como ser bonito depende do padrão estético da mesma.
     É raro ver homens selecionando mulheres ideais nesse jogo fictício, e se o fazem, as estatísticas permanecem ocultas entre eles. Não nos revelam. 
    Nós, em qualquer conversa que pressuponha uma escolha, própria ou alheia, encontramos motivo para desfilarmos nossa banda de qualidades e aptidões.
     Foi assim que o Álvaro surgiu em minha vida, por onde cansei de brincar sozinha. 
     Bem-humorado, culto, inteligente, apaixonado por literatura britânica. Talvez um professor escrevendo sua tese, sobre a Austen ou o Oscar Wilde. Nada original, mas teríamos assunto para muito vinho e beijos. 
     Cinema e Arte também são interesses primordiais para se fazer par, música é condição sine qua non, como bom gosto e elegância não escapam desse círculo afetivo.
     Duas questões essenciais e delicadíssimas não podem ser escondidas debaixo da cama, mesmo que constrangedoras: carro e dinheiro. Logo, o Álvaro não precisa ser nenhum ricaço a pilotar carros importados, todavia  possuir um modelo decente que nos leve, e traga sem enguiçar, a bons restaurantes e a hotelzinhos românticos faz parte do seu perfil. Roma conquistaria meu amor eterno, como Saquarema me faria perder o tezão.
     Já empurrei muito Fusquinha e Gordini na minha meninice namoradeira...         
     Já acampei com uma dezena de amigos numa barraca onde mal cabiam três, no meio da lama, sob sol de rachar coco ou temporal, só com alguns trocados no bolso para o sanduíche de queijo rançoso e o macarrão coletivo.
     Já ganhei 'Toque de Amor', da Avon, de presente no meu aniversário.
     Já me escreveram poema onde se dizia: você é o meu corasão ♥ Bonitinho, mas intolerável. Ao menos, esse se tornou inesquecível, mesmo que pelo motivo errado.
Já esperei em vão na porta do cinema, tomei chá de cadeira no baile, ganhei beijo seco  sem sabor. Abraços raquíticos então nem se fala.  
     Não devo reclamar pois divertia-me a valer, porém cada aventura tem seu tempo certo a ser vivida, e atualmente meu paladar saliva por outras frutas.
     Porque cheguei ao requinte de batizar meu imaginário amor, pintar-lhe barba e bigode, arrancando seus cabelos até uma elegante calva se pronunciar, fica fácil deduzir. A própria tela do Leon que estampei acima o explica. 
     Álvaro sempre foi um dos meus nomes preferidos, e com tanta liberdade de pensamento, por que não escolhê-lo? Queria livra-me dos Pedros, Paulos, Eduardos, Antonios, Flávios, Ernestos... Nada que suscitasse lembranças, boas ou más. Um nome inédito revelou-se ideal para montar tal sujeito.
    A gororoba que coloquei a ferver, com maças, mel, ervas e outras miudezas mágicas de amor, já espalha seu vapor pela casa. 
    Talvez Santo Antonio em pessoa, atraído por tão doce fragrância, arraste o Álvaro pelos colarinhos e o faça, na esquina, em mim esbarrar.

     
     

                         Tela de Leon Wyczólkowski - (1852 / 1936) 
                                            Pintor Polonês.

                                           Terê Oliva
  




3 comentários:

JasonJr. disse...

Parece o Picasso. :D

Olhar o mar disse...

Por aqui passo para lhe desejar um bom fim de semana e siga cantando essa busca do amor, da alma, da rima da vida, que sempre se transforma na poesia que é nossa e repartida.

Um grande abraço de amizade lhe envio deste outro lado do oceano.

olharomar

Anônimo disse...

Oi Teresinha, isso é uma utópia.
Desejos ardentes e amor incondicional deixa uma felicidade interna. Melhor do que amargura, desilusão.
Abraço Cynthia