domingo, 12 de junho de 2011

NU EM PELO.

Ao ver-te nu em pelo
Belo arauto de sonho bom
Terno menino no remanso do nosso amor de outrora
Me sinto perversa madrasta, de espelho e maçã
Ao te negar de mim o melhor nas falésias desse sentimento louco
Que entre escarpas d'água salgada mata e ressuscita 
A mulher que sou, ou fui
Em cada célula, mitocôndria a buscar teu sal
E nos tornar um.

Selo com indiferença as fretas dos cortes
Que permitam talvez, algo de bom transpirar.
Oculto em cada resquício de dor e lembrança
O soldado de chumbo quebrado, que em general se engalana.
Mestre nos discursos, da verdade o dono.
Nas pregas da ironia recita, sem sentido as tolices
Que intuo da vida sonhos, na infância desejos
Frustrados no homem que não chora e não sentir tenta.
Herói de cristal que carrega a dor que lhe cabe.

Ao ver-te nu em pelo
Débil, desconexo fantoche a dormir sob a lua gris
Te acalanto em ternuras e recito elegias.
Minha angústia se dilui nos enganos ante tua imagem
Que, esqueço, o espelho nunca reflete.
Prorrogo a decisão de arrumar malas e ir
Sem para trás nem uma só vez olhar
Porém, a dúvida se faz par e me enlaça a cintura
Como, muitas vezes, em arroubo fizeste.

O adeus enluarado parece sem sentido. 
Cresto-o entre as folhas do chá de cadeira
Enquanto espero o sino dobrar.

Obra de Emilia Castañeda - Pintora Espanhola
Óleo em tela

Teresinha de Oliveira.

Um comentário:

Ana Cecília Moura disse...

Muito bom o contraste entre o físico e o emocional, o objetivo e o subjetivo do teu "arauto de sonho bom".

"Ao ver-te nu em pelo
Débil, desconexo fantoche a dormir sob a lua gris
Te acalanto em ternuras e recito elegias." - meu trecho preferido.

Impactante.