As meninas ainda brincam com bonecas. Não mais as bonecas inertes, que nos cantos Ou sobre a cama jaziam com seus membros espalhados Sem nem piscar olho.
Hoje elas dançam, riem, dormem e se mexem nos sonhos
Falam. O quanto, depende. O vocabulário equivale ao preço na caixa.
Declamam versinhos centenários que até bisavó relembra.
Ficam doentes e esquentam de febre
Tomam injeção, choram na lagriminha que por pouco não cai
Logo ficam boas e prontas para outra.
Comem, bebem, fazem xixi e a outra coisita mais.
Quando crescem, magrelas e lindas
Modelitos de filmes e canções
Passam logo a namorar, rapazes igualmente magrelos e lindos.
Assim, além de casa, comida e roupa lavada
Há necessidade de carros, mobílias, quinquilharias e mil tralhas
Que se espalham como vírus pelo chão e ninguém cata.
Com bolso doído e coração molenga
A avó, pobre de marré, marré, marré
Passa ao largo das lojas de brinquedos e tenta
Outros cenários.
Chama as meninas para a roda, ciranda
Numa tentativa vã de escapar da numerosa prole.
Porém, as pequenas mães se agarram às bonecas
Desejando companhia para a brincadeira que
Desde criancinha, ela sempre rejeitou.
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