terça-feira, 28 de junho de 2011

ALÔ...ALÔ...

Todos, ou pelo menos a grande maioria de nós, quando tem papel e lápis à mão, rabisca enquanto fala ao telefone. Cada qual usa o grafite ou a tinta do jeito que um ser invisível lhe sopra aos ouvidos, escolhendo figuras geométricas, palavras ou simples retas  de forma inconsciente. Muito raro é aquele que pensa nisso após o beijo ou abraço no clic final.
Já observei amigos rasgando céus com raios e mais raios, ou iluminando-os com tantas estrelas que, no esgotar das margens uma constelação se formou. Subir e descer escadas é mais do que comum, como também o é o sujeito escrevinhador, que anota palavras, números e até frases inteiras referentes à conversa com o alguém do outro lado do fio.
Há também os egocêntricos, que escrevem e reescrevem o próprio nome vezes sem fim: em letras de forma, cursivas, maiúsculas, bordadas... Um festival de si mesmo!
Tenho minha mania particular, e peculiar, de manejar meus lápis enquanto estou ao telefone, especialmente quando o interlocutor é maçante e fica repetindo vezes sem fim o mais simples dos recados. Passo esse tempo morno desenhando bichinhos. Coelhinhos, gatinhos, porquinhos, peixinhos e mais um zoológico inteiro no diminutivo enquanto o outro não calar. Todos tem seu jeito infantil de ser, desde o laçarote de bolinhas que aquece o pescoço do leãozinho aos brincos da cachorrinha sem raça, que as crianças aqui de casa imaginam  ser uma ursa.
Preciso aprimorar meu traço !
Talvez, apenas talvez, num lampejo de curiosidade, vou tentar numa autoanálise descobrir os segredos dessa minha paradoxal personalidade: a que  escreve versos com palavras cruas mas desenha bichinhos enquanto fala ao telefone.

Obra de Michel Charvet
Artista Francês.

Terê Oliva

2 comentários:

Andradarte disse...

..é quando o meu 'inconciente 'funciona
e me faz rabiscar estudos que guardo,
para mais tarde rever....
Funciona...
Beijo

Liliane disse...

Adorei, Tere, esse é um dos que vai para o livro!