![]() |
Tela de Sir Edward John Poynter - 1836/1919 Pintor Inglês. Terê Oliva. |
domingo, 31 de março de 2013
sexta-feira, 29 de março de 2013
SEXTA-FEIRA SANTA
![]() |
Tela de Mellozo da Fiori - 1438/1494 Pintor Italiano Terê Oliva |
sexta-feira, 22 de março de 2013
ASAS PARTIDAS
quarta-feira, 20 de março de 2013
ROGO
terça-feira, 12 de março de 2013
MULHERES CARIOCAS ♀ MARIA JOSÉ
A mãe gastou as mãos e suou todas as bicas que tinha no corpo ao lavar e passar roupa de madame. O pai, as mãos não tinha melhores, mas gastava de outro jeito, nos tijolos e cimento que as paredes não devolviam em sustento. Apesar de tanta lida nesse destino estropiado, alegria não faltou quando, das páginas do Evangelho onde oravam a cada sábado sem faltar a nem unzinho, caiu depois de tanto ano esperado, uma menina com olhos d'água de rio, rio de águas verdes que nenhum dos dois sabia onde corria.
Tal milagre aconteceu num dia especial p'rá toda gente, um Dia de Natal.
Diante de tamanha graça, pensaram logo, mãe e família palpiteira, em dar-lhe o nome de Natalina. Já houvera uma, parente do interior que ninguém mais sabia paradeiro, se viva ou morta.
Tal distância e desprezo apagou a ideia mas fez outra brotar - Maria José! Disse o pai, com arrogância de chefe do clã que agora fundava. -Presépio também é Natal, muito mais que Papai Noel, que árvore, que neve... Quem aqui já viu neve? Quem?
Assim batizou-se a menina tão querida e esperada, a que tinha olhos d'água de rio e caíra do Evangelho num Dia de Natal.
Roupas eram lavadas e passadas, paredes se erguiam e os Natais, permaneciam magros. Somente Zezinha florescia forte e bonita, em meio a toda necessidade.
Cresceu sozinha porque irmão nunca chegara, cercada de miséria e sonho de grandeza. Cheia de primores, merecia outro destino. Pelo menos, nisso acreditava em seu coraçãozinho jovem e pé-rapado.
Contra conselho de pai e mãe, andava pelas ruas bicando os paralelepípedos com salto alto de sandália nua, cabelos dançando ao gingado de seus quadris mulatos, boca com batom de puro sangue e unhas azuis que combinavam com a roupa justa de gosto duvidoso.
Contra conselho de pai e mãe, andava pelas ruas bicando os paralelepípedos com salto alto de sandália nua, cabelos dançando ao gingado de seus quadris mulatos, boca com batom de puro sangue e unhas azuis que combinavam com a roupa justa de gosto duvidoso.
-Cismou de ser moderna essa menina. Reclamava a mãe nas conversas com as amigas de tanque e igreja.
-Nem ao pai, tão bom, obedece mais.-
-Nem ao pai, tão bom, obedece mais.-
Quer ser rica! Como, ainda não sabe. Desejo recém descoberto depois que tantos outros morreram sem chance ao menos de brotar. O jaleco
branco, uniforme da escola, com nome no bolso bordado pela avó carinhosa, virou saia curta e salto de partir tornozelo em qualquer pedrinha de mau jeito pisada. Agora,sacolejante, mais parece borboleta sem ter onde pousar.
Pega ônibus, quase todo fim de tarde, e ruma para o calçadão da praia em busca de estrangeiro que por ela se apaixone e, com aliança no dedo e passaporte carimbado, a leve para longe.
Tudo isso sonha ao desfilar com Quinzinho, seu amigo de infância, por ela desde lá apaixonado. O diminutivo bem lhe cabe, pois mal lhe chega ao nariz. É ele companhia constante nos bailes e onde mais for, pagando as contas sem penar no bolso ou no coração.
Maria José é algo mais, muito mais do que Quinzinho julga possível. Até no vestir lhe espanta para maior bem querer. Suas pernas expõe, mas proíbe o toque, para seu desespero que não se contenta com o prazer do olho.
-Como serão seus mamilos?- Dorme ele toda noite a pensar... Prefere os seios pequenos, com pérolas rosadas a cintilar no cume, mas se os de Maria José forem fartos e enfeitados com castanhas do Natal que lhe inspirou o nome, nenhuma diferença faria.
Passa horas filosofando sobre o amor, na quantidade do tanto que o enlouquecia. Assim apalermado, vive das graças que ela espalha, do brilho que dela vem.
Quando ela sai a dançar, girando sorridente, seu peito dói torcido, dor de verdade, dessas que só os grandes amantes e poetas no sofrer conhecem. Como deusa a venera, como mulher a deseja. O sagrado e o profano dentro dele se completam e minguam sua língua de beijo negado numa oração diária.-Como serão seus mamilos?- Dorme ele toda noite a pensar... Prefere os seios pequenos, com pérolas rosadas a cintilar no cume, mas se os de Maria José forem fartos e enfeitados com castanhas do Natal que lhe inspirou o nome, nenhuma diferença faria.
Passa horas filosofando sobre o amor, na quantidade do tanto que o enlouquecia. Assim apalermado, vive das graças que ela espalha, do brilho que dela vem.
Ela, sem nada disso saber de tão profundo, com Quinzinho a tiracolo, nas larguezas do calçadão do mar caminha à espera do destino que a cubra de ouro e outras sortes.
Como maré e lua, o tempo também enche e esvazia em seu inexorável correr; só Quinzinho não corre, porque amor de verdade não tem pressa e nas esquinas dos seus anseios vê o futuro que ninguém mais vê. Sentado, para de esperança não cansar, espera.
Espera o dia de radioso nascer em que a moça dos seus quereres crie juízo, escape das areias movediças, e pródiga volte ao lar em seus abraços para gastar as mãos nas águas enquanto ele ergue paredes no real.
Tela de Sarah Bishop - Acrílico em tela.
Pintora Australiana Contemporânea.
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br
Espera o dia de radioso nascer em que a moça dos seus quereres crie juízo, escape das areias movediças, e pródiga volte ao lar em seus abraços para gastar as mãos nas águas enquanto ele ergue paredes no real.
Tela de Sarah Bishop - Acrílico em tela.
Pintora Australiana Contemporânea.
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br
A INSANIDADE DO TEMPO
![]() |
Tela de Edward Charles Barnes - 1856/1882 Pintor Britânico. Terê Oliva. |
segunda-feira, 11 de março de 2013
VOAR NA POESIA
![]() |
Tela de Émile Auguste Pinchart - (1842/1924) Pintor Francês. Teresinha Oliveira |
domingo, 10 de março de 2013
DOMINGO COM MACARRÃO
Domingo é dia de macarrão, comprado em quilo ou meio no mercado
Não mais o gostoso, elaborado fio a fio por muitas mãos femininas, e algumas masculinas que atrapalhavam
Casa de avó com pés na Itália, personagens de romances e aventuras que de lá por aqui quedaram.
Também muitas tias que dessa comilança entendiam
Também muitas tias que dessa comilança entendiam
As meninas, também os meninos, primos de perder a conta
Queriam meter a mão na massa, esticar fininho, cortar
Pendurar para secar enquanto a água não fervia.
Nuvens de farinha, cabelos, braços, roupas, chão...
Divertido branco.
Gargalhadas, sermão de tia irritada
Com tantos pedaços quebrados, inúteis, desperdício de comida.
O barbante, varal do macarrão ainda úmido arrebenta
Macarrão p'rá todo lado.
Segura o Barão!
Barão, cachorro velho de casa, abdica do seu título de nobreza
Come no chão mesmo, sem dar importância
Aos espantos e passa-foras.
Faz mais massa, pega farinha, ainda tem ovos?
Amassa, estica, corta fininho, pendura para secar
Brincadeira perde a graça e ainda demora comer.
O avô mexe o doce em calda na panela de ferro
Com panos enrolados até os cotovelos
Para se livrar dos respingos ferventes.
Todo mundo ocupado.
Seca a massa, descasca tomate, soca alho
Pica cebola bem miudinha senão o pirralho não come.
Mexe a fruta que desfez no açúcar
Coloca o bolo de chocolate na geladeira, ajeita um lugar
Não! Nem um pedacinho...Depois come tudo, é a sobremesa
Coloca o bolo de chocolate na geladeira, ajeita um lugar
Não! Nem um pedacinho...Depois come tudo, é a sobremesa
Cuidado! Não quero criança na cozinha.
A garotada que mora longe um do outro, e por tal quase não se vê
Mas se gosta, logo arranja o que fazer.
Quem fuma, rouba cigarro dos mais velhos
Vai para a vila fumar.
Quem é de conversa, coloca os assuntos em dia
Quem é endiabrado, arranja cúmplice e vai fazer o que não deve:
Pular em cama, fuçar armário, beber vinho escondido
Desarrumar a casa inteira.
Quando a barriga está prestes a roncar um grito se ouve
A mesa está pronta! Vamos almoçar!
Ninguém ainda sabia, mas desmanchando na boca
O macarrão se tornou lembrança.
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com
http://tereoliva.blogspot.com
sábado, 9 de março de 2013
PERDIDA NA LIVRARIA.
quarta-feira, 6 de março de 2013
THIAGO
Um menino morreu.
Morreu igual a passarinho quando cai de árvore
No susto do inesperado.
Há muito o conhecia, desde moleque
Desde antes de pintar as unhas de preto
E achar isso bonito.
Cresceram juntos os meninos do bairro
Nos campinhos de terra da pelada - 16x2 / 14x5
Nas festinhas das primeiras namoradas
Nos churrascos com carne dura e cheia de pelanca
Que somente os dentes jovens conseguiam mastigar.
Mas era o que dava para comprar
Com o cata-cata de moedas e sobras da mesada.
Um menino morreu.
Um menino com alma de artista
Que gostava de música, de grafittes, de tatuagens
De brincos, de roupas estranhas...
Careta.
Não fumava, não bebia, não tomava drogas
Extraía sua alegria e, generoso, a espalhava por onde passasse
Da própria vida que amava.
Peço a Deus, ou ao anjo que disso cuida
Que o receba com carinho e especial atenção.
Ele, nessa dimensão que ninguém compreende
O fez por merecer.
Um menino morreu
E eu, que nunca choro
Chorei.
No susto do inesperado.
Há muito o conhecia, desde moleque
Desde antes de pintar as unhas de preto
E achar isso bonito.
Cresceram juntos os meninos do bairro
Nos campinhos de terra da pelada - 16x2 / 14x5
Nas festinhas das primeiras namoradas
Nos churrascos com carne dura e cheia de pelanca
Que somente os dentes jovens conseguiam mastigar.
Mas era o que dava para comprar
Com o cata-cata de moedas e sobras da mesada.
Um menino morreu.
Um menino com alma de artista
Que gostava de música, de grafittes, de tatuagens
De brincos, de roupas estranhas...
Careta.
Não fumava, não bebia, não tomava drogas
Extraía sua alegria e, generoso, a espalhava por onde passasse
Da própria vida que amava.
Peço a Deus, ou ao anjo que disso cuida
Que o receba com carinho e especial atenção.
Ele, nessa dimensão que ninguém compreende
O fez por merecer.
Um menino morreu
E eu, que nunca choro
Chorei.
![]() |
Tela de Kalman Aron - Nasc. 1924. Pintor Americano. Terê Oliva. |
segunda-feira, 4 de março de 2013
FARRAPOS DE UM POEMA INÚTIL
domingo, 3 de março de 2013
A CERNE DAS UVAS
![]() |
Tela de Juarez Machado - Nasc.1941 Pintor Brasileiro. Terê Oliva. |
sábado, 2 de março de 2013
URSO DE RETALHOS
Assinar:
Postagens (Atom)