quarta-feira, 20 de março de 2013

ROGO

No dia em que eu morrer
Não quero ninguém por lá
Testemunhas oculares do meu corpo frio
Hipócritas
Com muitos cruzei por aqui
Nessa dimensão duvidosa
Capazes de no palco, em pranto incontido
Encenar grega tragédia
Diante da cômica farsa que foi minha vida.

Não quero ninguém por lá
Nem um, nem centena
A mirar a face branca e lívida
Já tão clara pele viva
Desejo o escudo da tampa
Bem amada penumbra, esconderijo
Selado esquife, minha casa perene
De onde lacro portas e janelas.

Deixem-me quieta
Sem flor nenhuma
Mínima rosa, margaridas
Que sempre me foram negadas
Não pela terra companheira
Por minhas mãos canteiras agradecida
Mas pelo homem que amei
Das flores e lágrimas inimigo.

Nem um toco de vela aceso
Pois a luz que anseio é maior
Em todo o Universo luzindo
Orem por mim se quiserem
Agradecida ficarei.
Não sou tola para orações renegar
Logo eu, tão precisada de bençãos e perdão.

Não quero pranto
Nem beijos azedos de adeus
Já que minha boca vermelha e úmida
Há muito murchou
Os lábios sem sangue
Só desejam calar na morte
A dor.

Tela de Carl von Neff Timoleon - 1804/1877
Pintor Russo.

Teresinha Machado de Oliveira.

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