No dia em que eu morrer Não quero ninguém por lá Testemunhas oculares do meu corpo frio Hipócritas Com muitos cruzei por aqui Nessa dimensão duvidosa Capazes de no palco, em pranto incontido Encenar grega tragédia Diante da cômica farsa que foi minha vida.
Não quero ninguém por lá Nem um, nem centena A mirar a face branca e lívida Já tão clara pele viva Desejo o escudo da tampa Bem amada penumbra, esconderijo Selado esquife, minha casa perene De onde lacro portas e janelas.
Deixem-me quieta Sem flor nenhuma Mínima rosa, margaridas Que sempre me foram negadas Não pela terra companheira Por minhas mãos canteiras agradecida Mas pelo homem que amei Das flores e lágrimas inimigo.
Nem um toco de vela aceso Pois a luz que anseio é maior Em todo o Universo luzindo Orem por mim se quiserem Agradecida ficarei. Não sou tola para orações renegar Logo eu, tão precisada de bençãos e perdão.
Não quero pranto Nem beijos azedos de adeus Já que minha boca vermelha e úmida Há muito murchou Os lábios sem sangue Só desejam calar na morte A dor.
Tela de Carl von Neff Timoleon - 1804/1877 Pintor Russo.
Teresinha Machado de Oliveira. |
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