Meu vizinho, da florida casa na esquina
Morreu sozinho sem se saber de quê.
Foi-se embora com uma paz tão larga no rosto
Que suscitou versões das mais variadas entre aqueles
Que vivem atrás das cortinas na vida alheia.
Somente eu sorria para o jardim tentando ver o que ele via.
Sob as rochas que despencaram agridoces da morte
Caiu o velho Renato, sorrindo leite e mel
Para as fadas que a cada nova primavera
Surgiam em seu jardim e com ele conversavam.
Por escárnio aos descrentes ele tal jurava de pés juntos e dedos descruzados.
Assim ficou ele sabendo, ouvinte de orelhas bem lavadas
Sentado na terra úmida de onírica manhã
Os mistérios dessa aparição.
Vinham aos bandos com função de agulha e linha
Costurar vestidos novos com pétalas das flores recém-nascidas.
Se sobrasse tempo, e capricho em dedos mais hábeis
Debruavam golas, punhos, bainhas, decotes
Com fitas verdes, tricotadas com finíssimas lãs de grama.
Só depois de prontas partiam, deixando beijos no até breve.
Para onde iam todas de roupa nova
Mantinham em segredo.
Só revelaram, em seus murmúrios de amêndoa doce
Que carregavam para o céu dos destinos
A imagem do velho jardineiro para abrir caminho .
Telas de Franz Dvorak - (1862/1927)
Pintor Húngaro.
Terê Oliva.
http://tereoliva.blogspot.com.
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