Tela de Asta Elise Jakobine Nörregaard - (1853/1933) Pintora Norueguesa.
Pobres livros meus!
Manchados de gordura, café então nem conto
Com vergonha por tamanho destrato.
Os riscos não tanto me envergonham
Porque os traço com grafite e mão boa
Que consegue retas quase precisas sem régua.
Gens de desenhista, e dos bons.
Sujos, é bem verdade, ficam.
E reescritos... Às vezes parágrafos inteiros
Quando discordo do escritor ou a ele quero fazer pensar
Num rasgo de presunção, com a minha reles cabeça oca
Sem um único fio de cabelo talentoso.
Com poetas também cochicho
Baixo e com minúsculas letras
Por respeitos à Musa Poesia, que logo mostra meu lugar.
Porém nem assim fico calada, e emendo uma pergunta
Uma ideia nova no verso curto, com espaço
Para eu inserir o que na cachola foi despertado.
O mais vergonhoso, entretanto
Deliciosa mania da qual não me consigo livrar
É lê-los a comer mangas. Muitas mangas
Somente as espadas, preferidas frutas.
Meus livros tornam-se delas fruteiras
Na safra ou fora dela, porque no Brasil tropical
Elas nunca desaparecem de vez.
Quando os presenteio a amigos leitores
Ou os envio para bibliotecas públicas, imagino
Se o próximo leitor descobrirá a que se devem
Aquelas inúmeras manchas amarelas.
Saborosos borrões, pingos de manga na mania de ler.
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