sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

GEOGRAFIA POÉTICA.

A cabeça maluca rasga os livros de geografia.
Se põe à janelas altas para mirar ruas desconhecidas
Como se cotidianas fossem em sua beleza e rumo.


Íntimas logo se tornam nos passos sobre os paralelepípedos
Contadores de histórias dos que neles também tropeçaram
Ou por molhados de chuva, ou nos arroubos de beijos apaixonados.

Julgando-as poéticas e possíveis aos pés inchados, tenta
Entre as paralelas que cruza e descruza
Descobrir-lhes os segredos:


Os amantes, os adúlteros ocultos pelas paredes caiadas de amarelo
A fé cristã, na velha igreja onde se ajoelha e ora ante velas toscas
O sabor do cheiro que empesta o ar e enche a boca d'água
O culpado do crime que estampou o folhetim e jamais confessou.

Entretanto, a vida é breve e a realidade avarenta logo aniquila
Os fragmentos com os quais a imaginação se constrói.
 As sombras do extraordinário, vistas lá do alto são guardadas
No alforje do estático viajor quando as cortinas se fecham.


Tela de Ivan Slavinsky
Pintor Russo Contemporâneo.

Teresinha Oliveira.





2 comentários:

Anônimo disse...

Você é psicanalista, né? HAHAHA.

e a realidade avarenta logo aniquila
Os fragmentos com que o desejo se constrói.

Maria Rodrigues disse...

Sim a vida é breve e como tal devemos viver os bons momentos que ela nos oferece com intensidade, como se fossem os últimos.
Lindissimo poema.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria