domingo, 22 de maio de 2011

FLORA.



Desejo, louca de mente sã, ou quase assim tanto
Num cataclismo de células, lampejo de emoção crua
Criar em mim floresta, ou uma ter só para mim.
O silêncio das plantas, das imóveis árvores caladas
Sequoias dos abraços imensos, de botânica eterna vida
Cedros, baobás, gordos de musgo e ninhos
Mulungus com galhos no chão, pesados de flores.

Sentadas todas elas a me cercar vegetal irmã
Valetes da dama que inveja majestosa existência.
Consciência apagada, vestal núpcias com o solo negro
Só bruta seiva em prol da vida circulando.
Talvez exótica orquídea, samambaia
Simples erva em chão disseminada, sem som, estática
Química essência de sol e água e terra.

Nesse domínio de harmonioso langor
Crio raízes numa nesga qualquer de verde
E ali permaneço, alheia a tudo do reino além.

Ilustração de Helena Nelson Reed.
Teresinha Oliveira - 1995.

3 comentários:

Ana Cecília Moura disse...

Essa sua escrita - belíssima, aliás - remeteu-me a "Mulheres q Correm com os Lobos"... O arquétipo da Mulher Selvagem, ou o da Grande Feiticeira, a vagar pela floresta a recolher ossos.

Ana Cecília Moura disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Teresinha Oliveira disse...

Eis uma boa ideia, Ciça. Theodora recolhendo ossos e cacos das lembranças alheias pelo chão da floresta. Já é um começo para um conto... Beijos.