Desejo, louca de mente sã, ou quase assim tanto
Num cataclismo de células, lampejo de emoção crua
Criar em mim floresta, ou uma ter só para mim.
O silêncio das plantas, das imóveis árvores caladas
Sequoias dos abraços imensos, de botânica eterna vida
Cedros, baobás, gordos de musgo e ninhos
Mulungus com galhos no chão, pesados de flores.
Sentadas todas elas a me cercar vegetal irmã
Valetes da dama que inveja majestosa existência.
Consciência apagada, vestal núpcias com o solo negro
Só bruta seiva em prol da vida circulando.
Talvez exótica orquídea, samambaia
Simples erva em chão disseminada, sem som, estática
Química essência de sol e água e terra.
Nesse domínio de harmonioso langor
Crio raízes numa nesga qualquer de verde
E ali permaneço, alheia a tudo do reino além.
Ilustração de Helena Nelson Reed.
Teresinha Oliveira - 1995.
3 comentários:
Essa sua escrita - belíssima, aliás - remeteu-me a "Mulheres q Correm com os Lobos"... O arquétipo da Mulher Selvagem, ou o da Grande Feiticeira, a vagar pela floresta a recolher ossos.
Eis uma boa ideia, Ciça. Theodora recolhendo ossos e cacos das lembranças alheias pelo chão da floresta. Já é um começo para um conto... Beijos.
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