Deixe-me despejar nesse assoalho a amargura dessa xícara de porcelana rachada, onde não cabe mais a solidão que cansou, simplesmente cansou de esperançar o que não há, o que de longe não veio, nem a pé, nem de barco, nem pelo vento verde chegou.
Minhas mãos se quebram inúteis, meu corpo murchou como fruta no chão, e não há tempo para sementes.
Não desenho janelas no futuro, nem pelas frestas da porta vejo além do muro do quintal, corroído muro de musgo e hera sem corte, com tijolos aparentes, que se desmancha aos pouquinhos como a vida também o faz.
" Ó Sol que derrete a neve e meu pezinho prende", derreta-a rápido enquanto me restam passos para o caminho, só mais um pouco rogo, enquanto recordo ainda canções e brincadeiras da menina que no montículo de neve sentou. Linda criança com cabelos de sol poente e olhos de folha que cada vez mais amiúde minha memória visita.
Crescente como a lua que não engana as marés uma mansa tristeza se acerca.
O paladar se esgotou nos morangos colhidos na estação atrasada e nas mangas azedas que nem passarinho sem pouso bicou.
A madrugada que não cessa clareia na penumbra os objetos antigos que sem razão permanecem,em
sua esgotada estética, e que mais nada revelam além da própria inutilidade, como a flor morta que jaz no vaso de cristal rachado.
O chão de mármore manchado em pingos e respingos atemporais, já sem causas lembradas, não induzem mais a pés descalços, porque os pés de verão tropeçam entre si.
Como o próprio desejo, que desde sempre tão pouco desejou e talvez pelo pouco ser a relevante conquista, ficou ressecado nessa aquarela borrada de poema.
Sou-me inesgotável e frágil, e por assim me saber, suspiro de cansaço, penúria e anseios.
Rasgo a toalha da mesa de jantar e vou tomar um banho.
Tela de Oswaldo Guayasamin - (1919/1999) - Pintor Equatoriano.
Teresinha Oliveira.
" Ó Sol que derrete a neve e meu pezinho prende", derreta-a rápido enquanto me restam passos para o caminho, só mais um pouco rogo, enquanto recordo ainda canções e brincadeiras da menina que no montículo de neve sentou. Linda criança com cabelos de sol poente e olhos de folha que cada vez mais amiúde minha memória visita.
Crescente como a lua que não engana as marés uma mansa tristeza se acerca.
O paladar se esgotou nos morangos colhidos na estação atrasada e nas mangas azedas que nem passarinho sem pouso bicou.
A madrugada que não cessa clareia na penumbra os objetos antigos que sem razão permanecem,em
sua esgotada estética, e que mais nada revelam além da própria inutilidade, como a flor morta que jaz no vaso de cristal rachado.
O chão de mármore manchado em pingos e respingos atemporais, já sem causas lembradas, não induzem mais a pés descalços, porque os pés de verão tropeçam entre si.
Como o próprio desejo, que desde sempre tão pouco desejou e talvez pelo pouco ser a relevante conquista, ficou ressecado nessa aquarela borrada de poema.
Sou-me inesgotável e frágil, e por assim me saber, suspiro de cansaço, penúria e anseios.
Rasgo a toalha da mesa de jantar e vou tomar um banho.
Tela de Oswaldo Guayasamin - (1919/1999) - Pintor Equatoriano.
Teresinha Oliveira.
2 comentários:
Gostei da descrição dessas memórias...
Beijo
Gostei do texto.
Tenha um excelente domingo pleno de alegria e paz.
“Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver.”( Dalai Lama)
Beijinhos
Maria
Postar um comentário