quinta-feira, 19 de maio de 2011

ASAS DE PAPEL.

 São tantos livros, tantos desejos, tantas escolhas...Tal qual os desenhos da vida, que ninguém sabe como traçar. Tolo aquele que se julga capaz.
 Confio na sorte e na intuição para o passo seguinte do dia seguinte, do mês seguinte. Ano é tempo longo e espaço largo, e como nem sei se lá estarei, dele abdico em meu futuro.
Assim vivo a vida, e também assim os livros encontro; os cato pelas prateleiras como se cata conchinhas na praia para brincar, porque ler não é mais do que brincar. 
 Se eles trarão  prazer ou angústia, se história de escritor jovem que ainda crê no amor ou de filósofo pessimista, no princípio nunca sei. Dependo das ideias do meu amigo autor, pois quando dou as mãos a ele, deixo de me governar; é ele quem me conduz por seus caminhos.
  Discutimos muitas vezes, e escapo de seus labirintos ao seguir o sol que em determinados parágrafos para ele não brilha. Quando porventura o meu se apaga na dor sem luz possível, ele surge sorrateiro, e com o poder da esperança me oferece ao menos um sorriso, um beijo de amor ou o final feliz  que aqui, fora das páginas, desisti de buscar.
  Quando o corpo dói e os olhos lacrimejam no esforço das letras miúdas, fecho o livro e adio nosso reencontro, para quando realmente não sei. 
  Porém, tão simples como beber água será voltar para a China, a Idade Média, as ruas de  Nova York, um campo de concentração, outro planeta, ao amigo que me escreve, ao final da viagem que só ele sabe onde nos conduzirá.
O percurso é dele, já o trilhou. 
A mim só resta segui-lo, e correr à procura dos óculos.

Tela de Edward Antoon Portiellje - (1861/1949)
Pintor Belga.

Teresinha Oliveira.

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