terça-feira, 31 de maio de 2011

sábado, 28 de maio de 2011

IRMÃS SIAMESAS

   Atenção poetas e escritores! 
Os de verdade e aqueles que o julgam ser, os que apenas brincam, os que tentam, os que simplesmente rabiscam versos por dentro de si não contê-los...
   Não façam isso com as indefesas palavras; elas não tem pernas para fugir do papel e se esconderem até essa febre, esse modismo passar. 
   Deve ser estilo psicanalítico esse jeito moderno de pegar a pobre coitada e vesti-la com parênteses, tornando-a outra, novo vocábulo a revelar um conceito até então não existente. 
Já me contaram que Lacan assim muito escrevia, mas Lacan era genial e aos gênios tudo se permite. Idêntica liberdade e beleza se admira em Guimarães Rosa, que trançava suas palavas em uma originalidade que só a ele pertencia.
   Não passa de imitação ver destino e desatino se mesclando em des(a)tino. Significativas palavras que  grudam, irmãs siamesas para sempre no texto, ou esquizofrenicas em surto se tornam, gritando uma com a outra no espelho da página.
   Isso mais parece um Jogo de Palavras, e realmente não passa de um jogo, como esses que se imprimem nos jornais, onde com algumas letras, sem pular nem repetir, temos que formar o maior número possível de palavras. Divertida brincadeira com a qual já brinquei, mas desisti ao descobrir que nunca sairia vencedora, já que a solução com as inumeráveis palavras do jornal era obra de  computador.            
Covardia contra minha cabeça que consumia tempo e neurônios revirando do avesso meu vocabulário. Só quem vence computador é mestre enxadrista russo, e dos bons.
Como moda é questão de gosto e melancia no pescoço usa quem quer, permaneço alheia a esses modernismos sabendo que tudo vai passar, e logo ficará tão ultrapassado quanto rimar amor com dor.

                 Tela de Georgios  Iakovidis - (1853/1932)
                                               Pintor grego
                         'Girl Reading'  (1882)  Óleo  (60x45 cm)
                       
                                    Teresinha Oliveira
                                         Terê Oliva
                                              


quinta-feira, 26 de maio de 2011

AZUL

Despertei na maciez de um sonho lindo
Um sonho azul
Como azul era a paisagem que o inundava.

Eu era jovem ainda, com vestido de seda.
Envolvida em um abraço tão manso
Como o próprio sonho que sonhava.

Você era você.
Também jovem como o amor
No azul dos seus olhos que nunca esqueci.

Tela de James Jebusa Shannon - (1862/1923)
Pintor Ingês
In the Springtime - 1886 - Óleo ( 127x 101.6 cm)
Teresinha Oliveira

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PARA CIÇA♥FRIEDRICH VON AMERLING

Friedrich Von Amerling (1803/1887) Pintor Austríaco.


JOANNA CHROBAK - TALENTO E FANTASIA.


Encantei-me com essa nova amiga, a pintora polonesa- Joanna Chrobak- por isso desejo apresentá-la a vocês.
Meu conhecimento sobre arte é ínfimo, e o valor de uma pintura para mim é determinado pelo simples gostar ou desgostar. Como pelas suas obras me apaixonei,  e por não podê-las pendurar em minhas paredes, penduro-as aqui, onde posso admirá-las quando desejar.

VASSOURA DE PIAÇAVA.


Nasceu bonito, não há como abandonar as penas de coruja. Parecia querubim, tal qual pintores famosos sem ideias novas copiavam uns dos outros, e assim, de tanto gastar tinta criaram o esteriótipo: louro, gorducho, rosado.
Faltavam as asas por ser gente de verdade, e sem poder voar, caiu. Caiu lá em casa de surpresa, sem ninguém mais olhar para o céu esperando, pois lá já moravam dois, par perfeito que tinha perdido as asas nesse vai -e- vem de dias que esticam as crianças e enlouquecem a mãe.
Mas se houve o susto do berço ocupado também logo recrudesceu o amor, porque qualquer bebê é um ser facilmente amável; sábia armadilha da natureza que zela por suas criaturas. Não há como escapar dessa emoção. Até com bicho é assim .
Para andar foi um passo, a engatinhar logo se pôs e aí os problemas realmente começaram. A saudável criança, entre papinhas e frutas, elegeu como prato favorito as vassouras de piaçava. Não se podia esquecer nenhuma ao leu, pela casa ou quintal, que ele a descobria e lá ia chupá-la até sangrar os lábios.
Pode parecer aos incautos que tal problema é fácil de resolver, mas a realidade assim não se mostrou, porque vassoura é coisa diária e passeia por todo lado. Além disso, não se contentava o pequeno com os sabores domésticos, as piaçavas das casas alheias, de parentes e amigos eram igualmente apreciadas. Parecia ter radar esse menino, pois captava seu movimento e cheiro ao longe e para ela partia à menor distração de quem estivesse por perto a contê-lo.
Custou a passar a mania, mas para algo de bom creio que serviu. Cresceu forte e alto o moleque, como as piaçabeiras, palmeiras de onde se extraem as fibras para fazer as piaçabas das vassouras.
De tanto comer lixo, desenvolveu o paladar para vinhos e requintada culinária, onde arroz e feijão não integram seu cardápio.


Tela de Friedrich Von Amerling - (1803/1887)
Pintor Austríaco.
Teresinha Oliveira.




ALLEGRO.

Num descuido do Senhor do tempo
Átimo de segundo
Os olhares se desencontram.
Se esvai no peso das horas o toque
O abraço.
Se rompe o lacre da promessa carnal
A conjunção perfeita dos corpos
Onde a penetração seria
Como o allegro de uma sinfonia.

Glórias
Juras de amor ante deuses pagãos
Na volúpia dos sentidos nus
Desperdiçadas pelos corpos dos duelistas cegos.

Tela de Henri Lebasque  (1851/1933)
Pintor Francês
Teresinha Oliveira.


domingo, 22 de maio de 2011

ESPERTA MEMÓRIA.


Escrevo tantas tolices...
Nem todas que penso entretanto
Se não espantaria até a mim mesma
Tola pensante, tamanho manancial.
Muitas na memória esquecidas
Me salvam, esperta memória
De muitas mais escrever.


Tela de Rafal Olbinski
Teresinha Oliveira

VIDA DESAFINADA.

Tudo está bem !
Conforme sempre esteve...
Como nunca esteve bem de verdade.

Ainda no mesmo ritmo
Os dias desfilam
Sua banda desafinada

Com esperança do destino
De repente, encontrar um jeito
Da canção harmonizar.

Tela de Alex Lashkevich - Pintor Russo
Teresinha Oliveira.

FLORA.



Desejo, louca de mente sã, ou quase assim tanto
Num cataclismo de células, lampejo de emoção crua
Criar em mim floresta, ou uma ter só para mim.
O silêncio das plantas, das imóveis árvores caladas
Sequoias dos abraços imensos, de botânica eterna vida
Cedros, baobás, gordos de musgo e ninhos
Mulungus com galhos no chão, pesados de flores.

Sentadas todas elas a me cercar vegetal irmã
Valetes da dama que inveja majestosa existência.
Consciência apagada, vestal núpcias com o solo negro
Só bruta seiva em prol da vida circulando.
Talvez exótica orquídea, samambaia
Simples erva em chão disseminada, sem som, estática
Química essência de sol e água e terra.

Nesse domínio de harmonioso langor
Crio raízes numa nesga qualquer de verde
E ali permaneço, alheia a tudo do reino além.

Ilustração de Helena Nelson Reed.
Teresinha Oliveira - 1995.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A VIAGEM - TERRY BROOKS

Depois de " 2001- uma Odisséia no Espaço", qualquer imagem que nos dê um vislumbre desse antológico precursor nos parecerá desgastada. Falta de originalidade do autor, lugar-comum nos livros de fantasia ou ficção? Talvez. Mas o computador maquiavélico de Terry Brooks surpreende com seus requintes de crueldade funcional. Se o tema é antigo, a forma é assustadoramente nova.
Eu, admiradora de mundos mágicos e futuros, vou além dos detalhes simplesmente por não acreditar que as ideias se esgotem em si mesmas, pois nada há de mais criativo que o espírito humano.
A idealização do supercomputador, autossuficiente, auto criador, auto arbitrário, auto, auto, auto...é assustadora e possível demais para brotar numa só cabeça. Inúmeros livros e filmes já traçaram seu perfil, e nos mostraram que desligar a tomada não o destrói. Nossas opções minguam à medida que ele se aprimora e mentes brilhantes o cortejam.
A sedução pelo poder domina a maioria dos homens e governos, e nos transforma em descartáveis cobaias nesse mundo moderno; perda lamentável, mas perfeitamente justificada em nome do bem maior, que apenas aos poderosos é permitido determinar.
A nós, reles mortais, seres de carne e ossos quebráveis, só resta desejar que o futuro se esconda atrás dos séculos e aprisione em papel e celulose os monstros cibernéticos.

Tela de John William Waterhouse - (1849/1917)
Pintor Britânico
Livro- " A Viagem" de Terry Brooks
Volume I - Ilse,  A Bruxa
Teresinha Oliveira

ASAS DE PAPEL.

 São tantos livros, tantos desejos, tantas escolhas...Tal qual os desenhos da vida, que ninguém sabe como traçar. Tolo aquele que se julga capaz.
 Confio na sorte e na intuição para o passo seguinte do dia seguinte, do mês seguinte. Ano é tempo longo e espaço largo, e como nem sei se lá estarei, dele abdico em meu futuro.
Assim vivo a vida, e também assim os livros encontro; os cato pelas prateleiras como se cata conchinhas na praia para brincar, porque ler não é mais do que brincar. 
 Se eles trarão  prazer ou angústia, se história de escritor jovem que ainda crê no amor ou de filósofo pessimista, no princípio nunca sei. Dependo das ideias do meu amigo autor, pois quando dou as mãos a ele, deixo de me governar; é ele quem me conduz por seus caminhos.
  Discutimos muitas vezes, e escapo de seus labirintos ao seguir o sol que em determinados parágrafos para ele não brilha. Quando porventura o meu se apaga na dor sem luz possível, ele surge sorrateiro, e com o poder da esperança me oferece ao menos um sorriso, um beijo de amor ou o final feliz  que aqui, fora das páginas, desisti de buscar.
  Quando o corpo dói e os olhos lacrimejam no esforço das letras miúdas, fecho o livro e adio nosso reencontro, para quando realmente não sei. 
  Porém, tão simples como beber água será voltar para a China, a Idade Média, as ruas de  Nova York, um campo de concentração, outro planeta, ao amigo que me escreve, ao final da viagem que só ele sabe onde nos conduzirá.
O percurso é dele, já o trilhou. 
A mim só resta segui-lo, e correr à procura dos óculos.

Tela de Edward Antoon Portiellje - (1861/1949)
Pintor Belga.

Teresinha Oliveira.

A MORTE DA BEZERRA

Ficar na janela pensando na morte da bezerra...
Existe paz maior que esta?
Pensar no não pensar.
Isso sim é felicidade!

Tela de Giuseppe Mariotti
Pintor e Ilustrador Italiano.

Terê Oliva

quarta-feira, 18 de maio de 2011

VINGANÇA À LA SPIELBERG


Essa ilustração , cujo talentoso desenhista não posso aqui agradecer por desconhecê-lo, deu-me uma ideia macabra... 
Já monto todo o cenário na minha doentia imaginação sem mais nada de sensato  a pensar.
Sábios os que dizem que "cabeça vazia é oficina do diabo". Verdadeiro isso é, como normalmente o são todos os provérbios e ditados populares.
Deixando de lado essas questões filosóficas, já me vejo num belo domingo de sol, convidando alguns "amigos" para o churrasco à beira da piscina. 
Onde eu encontraria um tubarão de três metros à venda ou como o transportaria, não sei. Mas imaginação é como filme de Hollywood, tudo  é possível, mesmo com efeitos especiais de filme B.
Felizmente o número de convidados seria ínfimo, porém relevante.
Bobagens...
Minha alma nada tem de cruel e se compraz com pensamentos infantis como esses, arquitetando maldades que nunca se concretizam, mas distraem e agem como pomada cicatrizante no ego machucado.
Creio que o máximo que faria seria salgar a carne e colocar água no chopp; afinal,  se alguém sofre de pressão alta e não controla a própria gula, a culpa não é minha.


Terê Oliva - 2007






sexta-feira, 13 de maio de 2011

QUANDO 1+1 É IGUAL A 18

Não sou amiga dos gatos, bicho arredio e complicado que você nunca sabe o que pensa ou o que sente. 
Um engraçadinho cujo nome não me recordo dizia:  "Prefiro os gatos aos cães porque não existem gatos policiais". Eu porém, como não tenho nada contra os policiais já que todos os crimes que até hoje cometi foram perfeitos, sempre optei pelos cães.
Mas a vida prepara surpresas, e como no fundo toda mãe também é meio bicho irracional que lambe filhote e acata os caprichos da cria, caí nessa armadilha. Não por outro motivo passei a aceitar a companhia dos gatos tanto quanto a dos cães.
Responsabilizo essa transformação à chegada da primeira gatinha persa em minha tranquila rotina canina. Veio de longe, linda, com sua pelagem branca escovada, olhos azuis, e um jeitinho de bebê que quase me adoçou o coração. Coração que sempre foi mole quando necessário era dizer não a filho. Mas por distribuí-los tantos, irrevogáveis, achei melhor poupá-los nessa questão pueril e reservá-los às decisões maiores.
Batizamos tão alva criatura como Vênus, a deusa do amor. Nome perfeitamente adequado à gata de estirpe que renegava seu berço ao se envolver com qualquer plebeu da vizinhança. Amava sem medida ou cuidado, desfilando pelos telhados e árvores com os gatos sem eira nem beira, sem casa, sem dono. 
Meses depois, dentro do meu grande vaso de cerâmica marajoara, uma de minhas peças mais queridas, nasceram seis bastardozinhos. Todos feios, magrelos, manchados, sem a beleza aristocrática da mãe, que permanecia passeando pelos meus cômodos como se ali fosse o Olimpo.
Não demorou muito, cresceram, e procriaram.
Num desses partos, de generosa prole, a gata estrebucha no meio de sangue, placenta e mais no que não sei, pois me afastei o mais rápido que pude desse escatológico cenário. Minha filha, a que começou toda essa confusão, enrola a gata numa colcha e a leva, no meu carro, para o veterinário mais próximo. Nesse momento, cruelmente, pensei ter me livrado de pelo menos alguns indivíduos. Mas qual!
A competência do doutor salvou a todos, que retornaram saudáveis à casa materna, a minha. Para os que me julgarem insensível digo: quem pagou a conta da consulta e da cirurgia fui eu. Ah, quem lavou o carro, com cheiro insuportável de gato molhado também fui eu.
Sou uma pessoa tolerante e compreensiva, mas quando a última gota caiu ao me ver hospedando  dezoito gatos em casa, saí distribuindo gato para todo lado. Afinal, amigo é para essas coisas.
Preferiria dá-los aos inimigos, mas como não tinha nenhum...
Com certeza, depois dessa farta distribuição, conquistei alguns.


Ilustração de Doronina Tatjana - Cazaquistão
Terê Oliva






quarta-feira, 11 de maio de 2011

OS LIVROS QUE ME PERSEGUEM...

Minha vida corre serena, porque serena a moldo longe de todo movimento que me conduza além dos pórticos há muito delineados. Meu traço é curto e meus braços fracos, e ambição me falta para algo além.  Se não desfruto de aventuras ou grandes amores, também assim me esquivo das perfídias, dos naufrágios, de corrompidos quereres. As feridas e alegrias que ostento me bastam e  gastei décadas para ungir em benção a cada uma.
Meu prazer é profundo e custa pouco ao meu bolso com moedas contadas; se outros desentendem e definem sem encantos meus dias calados, tal julgamento só a eles cabe. Se continuarem a me presentear com livros, novos e lidos, que por desgosto ou falta de espaço em seus apartamentos modernos vêm escalar minha pilha já com tantos, permanecerão amigos.  
Se parecem inanimadas minha torre literária e a estante com filmes, ledo engano. Elas mandam recados e muitas vezes expulsam, com gritos ou murmúrios, algum ente que sai do seu canto quase sozinho e passeia pelos meus lugares, mais que companheiro, quase irmão.
Foi mesmo assim que "Água para Elefantes", da Sara Gruen, empurrou os algozes que o sufocavam sob tanto peso e desfrutou férias na minha cama. Curtas férias é verdade, mas a culpa não é minha se ele é magro e exige poucos cuidados. Assim o li, e gostei. Logo assistirei ao filme que já produzem.
Ele me pareceu um sujeito mal vestido em sua capa de mau-gosto, que nada prometia a qualquer leitor. Mas vi ser verdadeiro o velho ditado: "Nunca julgue um livro pela capa."
"Um Cântico para Leibowitz", já velho e querido, mandou-me recado através de um programa de entrevistas, onde um culto jornalista afirmou ser ele o melhor livro de ficção científica que já lera.
Nem mais sabia onde descansava meu volume de capa dura, da época do 'Círculo do Livro', que já aposentara por anos de serviços prestados.  Logo lembrei-me dos merecedores de releitura que guardo num canto carinhoso; porque reler leva à compreensão maior ao eliminar a ansiedade da primeira vez.
 Lá estava ele, nos desertos e mosteiros que Walter Miller Jr. criou, esperando como tantos outros, uma  sobra de meu tempo ou um fiapo de recordação que a ele me retornasse.
Nessa maluquice de leio, não leio, releio, desisto, insisto, os livros acumulam-se numa velocidade de biblioteca, e eu já meio cegueta e sem tempo, pergunto-me até quando me esperarão.



Tela de Ingrig Tussell - Pintora Espanhola.
Óleo sobre tela (80x80 cm)

Teresinha Oliveira.
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br


































































































       







segunda-feira, 9 de maio de 2011

NO COLO DE SOL ☼

Flocos de ausência dançam ao redor
Dessa morna manhã sem peso.
Melífluo silêncio.
Nem mesmo insetos zunem o ar.

Perfeito silêncio na mudez de tempo
A me aprisionar por aqui.
Cabeça mansa, sem nó
No colo do sol deitada.

Que não voem os pássaros.
Que não abram as flores ainda.
Que não desperte o jardim ao andar das formigas.

Se não o silêncio se espanta.
E só mais um pouco desejo
De paz companhia. 

Tela de Guy Orlando Rose - Pintor Americano - (1867/1925)
Teresinha Oliveira - Maio/1995

PUXE !

Nos dias de vida estreita
Me bato
E me arrebato.
Me desespero
Me grito.

Me aquieto
Me sento
E me acaricio.
Me gozo
Me condeno.

Me lanço
Me talho
E me contradigo.
Me espanto
Me desafio.

Se parto
Me alcanço
E me canso.
Logo desisto
E deixo para depois.

Tela de Andrei Buryak - Pintor da Bielorrúsia
 - Título: Puxe! -
Óleo sobre tela (100x100 cm)
Teresinha Oliveira.





sexta-feira, 6 de maio de 2011

Ó SOL QUE DERRETE A NEVE...

Deixe-me despejar nesse assoalho a amargura dessa xícara de porcelana rachada, onde não cabe mais a  solidão que cansou, simplesmente cansou de esperançar o que não há, o que de longe não veio, nem a pé, nem de barco, nem pelo vento verde chegou.
Minhas mãos se quebram inúteis, meu corpo murchou como fruta no chão, e não há tempo para sementes.
Não desenho janelas no futuro, nem pelas frestas da porta vejo além do muro do quintal, corroído muro de musgo e hera sem corte, com tijolos aparentes, que se desmancha aos pouquinhos como a vida também o faz.
" Ó Sol que derrete a neve e meu pezinho prende", derreta-a rápido enquanto me restam passos para o caminho, só mais um pouco rogo, enquanto recordo ainda canções e brincadeiras da menina que no montículo de neve sentou. Linda criança com cabelos de sol poente e olhos de folha que cada vez mais amiúde minha memória visita.
Crescente como a lua que não engana as marés uma mansa tristeza se acerca.
O paladar se esgotou nos morangos colhidos na estação atrasada e nas mangas azedas que nem passarinho sem pouso bicou.
A madrugada que não cessa clareia na penumbra os objetos antigos que sem razão permanecem,em
 sua esgotada estética, e que mais nada revelam além da própria inutilidade, como a flor morta que jaz no vaso de cristal rachado.
O chão de mármore manchado em pingos e respingos atemporais, já sem causas lembradas, não induzem mais a pés descalços, porque os pés de verão tropeçam entre si.
Como o próprio desejo, que desde sempre tão pouco desejou e talvez pelo pouco ser a relevante conquista, ficou ressecado nessa aquarela borrada de poema.
Sou-me inesgotável e frágil, e por assim me saber, suspiro de cansaço, penúria e anseios.
Rasgo a toalha da mesa de jantar e vou tomar um banho.

Tela de Oswaldo Guayasamin - (1919/1999) - Pintor Equatoriano.
Teresinha Oliveira.


quarta-feira, 4 de maio de 2011

O VÔO DO MACGYVER


Cada um tem seu herói particular,  aquele criado na medida certa para satisfazer seu imaginário. Porém na maioria das vezes esses heróis são inócuos, figuras representativas de nosso ego que logo se desfazem ante o real.
Mas criança é bicho diferente, e diferente pensa, se é que pensa.
Seus heróis são reais e parecem morar logo ali, na esquina da televisão ou da revista em quadrinhos.
Foi assim, inadvertidamente, que um deles chegou na minha casa. Não tocou a campainha nem me foi apresentado. Eu a mãe do mesmo sem o desconfiar, sempre envolta com coisas tantas, nem percebi que o moleque igualmente louro e lindo, incorporava o personagem que com um simples grampo era capaz de consertar qualquer coisa de qualquer coisa, sob qualquer circunstância.
O Dudu Magaiver se preparou com requintes de segurança, o que até hoje agradeço aos seus sábios gens e aos anjos do céu. Calçou meias de futebol e chuteiras, as luvas de goleiro do irmão, e após incomodar a todos na busca dos óculos escuros do pai sem ninguém perguntar o óbvio para que,  encontrou pela bagunça da casa e colocou-os também. Protegeu os joelhos com uma joelheira que por lá havia, e não se esqueceu do capacete novinho, vermelho como a bicicleta que acabara de ganhar no aniversário.
Só faltou passar perfume, meu amado herói em seus sete anos de aventuras vividas.
Vestido com sua fantástica armadura, dirigiu-se sem esperar testemunha, à varanda do nosso apartamento que felizmente não ultrapassava a altura do segundo andar. Numa fração de suspiro atirou-se no espaço vazio gritando MAGAIVER!
Nessas horas ilógicas em que o cérebro  se transforma num dínamo, corri à mesma varanda  pensando em que o MacGyver  tinha a ver com o salto. Se ainda fosse o Super -Homem...
Antes que o raciocínio encontrasse um foco, com o coração saindo pela boca, eu o vi levantar-se espanando a poeira da roupa.
Não foi necessário consertar nem um dedo quebrado.




Obra de Jim Daly - Pintor Americano - Litografia em Papel (16x21 Cm)


Terê Oliva












terça-feira, 3 de maio de 2011

MEMÓRIAS DE UM GUEIXA.

'Memórias de uma Gueixa' - (2005) - Baseado no romance homônimo de Arthur Golden de 1997.
 História Verídica de Sayuri - a última famosa  gueixa de Kioto , Japão.
 Com: Zhang Ziyi  {Chyo}-Sayuri / Ken Watanabe {Presidente} Direção de Rob Marshall.
 O filme é muito bom, 'quase' corresponde ao livro.
 O arquétipo das  gueixas exerce grande fascínio na alma feminina, assim como as princesas, as bailarinas clássicas, as ciganas ledoras de mãos, as  feiticeiras que com seus mistérios atam e desatam os laços do amor, as prostitutas, as deslumbrantes atrizes de cinema dos anos 40, 50... 
 Hoje até poderíamos excluir as atrizes. Ninguém quererá incorporar uma artista global quando guarda no seu imaginário a Gilda de Rita  Hayworth, ou o vestido esvoaçante da Merilyn Monroe.
 O desejo por esse ser catártico, que nos purificaria da vida comum que vivemos, permanece quieto, guardado entre as saias que não rodamos.

Teresinha Oliveira.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

DOR DE PEDRA AGUDA.

O pior, dor de pedra aguda
Não é quando alguém não nos ama
Lá isso se entende.
É quando alguém nos deixa de amar.

Obra de Teresa Viotti - Óleo em tela - (20x 20 cm)
Pintora Portuguesa.
Teresinha Oliveira.

INESQUECÍVEL.

" Assistirei ao desenvolver das tuas idades.
Guardarei todos os teus movimentos.
Já está na minha memória
A menina mãe de bonecas."

Murilo Mendes.
Tela de Charles Fraser - (1782/1860)
Pintor Americano

domingo, 1 de maio de 2011

ARTE II

"Sweet  Dreams" - Terez Montcalm - Cantora Canadense
Obras de Oxana  Yambykh - Pintora e Ilustradora Russa.
..................................
Sou apaixonada por essas macérrimas mulheres da Oxana!
 E claro, invejo esse mundo mágico por onde elas passeiam, carecas e lindas, com seus cavalos, peixes e duendes servis.
E através de suas tintas vejo que a vida é, em essência, um jogo de frutas explosivas.

Teresinha Oliveira.

ARTE

Música: Jocelyn Pook - Compositora e Violinista Inglesa.
Obras de Oleg Zhivetin - Pintor Russo.

Não gosto do Cubismo. A geometria parece-me prisão.
Mas o Zhivetin a pinta com tamanha beleza e suavidade, que não há como resistir a ela.

Teresinha Oliveira.