Desejo, louca de mente sã, ou quase assim tanto
Num cataclismo de células, lampejo de emoção crua
Criar em mim floresta, ou uma ter só para mim.
O silêncio das plantas, das imóveis árvores caladas
Sequoias dos abraços imensos, de botânica eterna vida
Cedros, baobás, gordos de musgo e ninhos
Mulungus com galhos no chão, pesados de flores.
Sentadas todas elas a me cercar vegetal irmã
Valetes da dama que inveja majestosa existência.
Consciência apagada, vestal núpcias com o solo negro
Só bruta seiva em prol da vida circulando.
Talvez exótica orquídea, samambaia
Simples erva em chão disseminada, sem som, estática
Química essência de sol e água e terra.
Nesse domínio de harmonioso langor
Crio raízes numa nesga qualquer de verde
E ali permaneço, alheia a tudo do reino além.
Ilustração de Helena Nelson Reed.
Teresinha Oliveira - 1995.