Kunz Meyer Waldeck - (1859/1953)
Pintor Alemão.
Já muito perguntei. Tantos explicaram mas não me convenceram.
Por que não se pode saborear um suculento bife de picanha na Semana Santa? Por que vejo-me obrigada a servir o mar em minha mesa?
Camarão pode? -'Pode'. Bacalhau pode? -'Ora, claro que pode, sua apedeuta. Bacalhau é peixe'. É mesmo... E siri? -'Acho que pode, é carne branca'. Se a questão é cor, então frango também pode. 'Aí já não sei'...
Entretanto, comer frango anêmico no feriado, com a família toda reunida, vai além da paciência de qualquer cristão. Frango é refeição de todo dia, de segunda à sexta se bobear, porque é barato, rápido e fácil de cozinhar e o povaréu aprecia.
Não eu, que logo imagino uma galinha de asas abertas correndo do facão pelo quintal.
Vaca não é assim. É bicho bobo que vive comendo grama verdinha e te olha com o olhar amoroso de quem sabe seu destino e dele não reclama.
Peixe nem mostra sentimento. Morre rápido e vai para a frigideira sem culpas do cozinheiro.
Siri é outra história. Dá mesmo pena jogar os bichos vivos na água fervente e vê-los se debatendo no caldeirão. Porém, como nada sei do sistema nervoso dos siris, peixes e mexilhões, prefiro pensar que eles não sentem dor para assim comê-los com a consciência tranquila.
Mas a questão do texto não é essa, é outra e mais séria, embora não escape da cozinha.
Nenhuma filosofia mais lógica existe, capaz de ordenar essa humanidade capenga, cega e louca que criamos, do que o Cristianismo.
Tradições não o fortalecerão, muito menos a obediência a elas revelará a fé daqueles que as cumprem. |
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