O amor cheirando feito massa de pão
Forno quente, desperdiçado fermento.
Eu vejo crianças na rua brincando num pote de mel
As pretas na beira do rio
Lavando as roupas sem mãos, sem sabão.
Eu vejo pastéis sendo vendidos
Enfeitados com a poeira do chão, na esquina da rua sem fim
O remorso na pedra encostado
A esperança de pé, cabra-cega fugindo
Para trás de todo lugar.
Eu sinto tonteiras, eu sinto vertigem
Na escada que sobe no torto do olhar.
Recado de Deus, grafite em pó.
O sexo nos poros de Deus
Que se ri das crias como eu
Que não conseguem decifrar.
Eu vejo ninfas e ouço línguas brincando canções
Peixes e tubarões me levam para o mar.
Viro concha, viro ostra
Pérola oculta para ao mergulhador ofertar.
Pedaços de céu que me brotam dos seios
Fecundos seios para alimentar multidões.
Eu sinto a morte caminhando depressa
Bem mais do que eu
Gigantes de vento navegam sem velas no ar
Arrastam meu tempo
Amassam o lençol
Calafrios de frio no meu coração.
Sou poeta que cansou de olhar.
Tela de Auguste Toulmouche - (1829/1890)
Pintor Francês
Pintor Francês
Teresinha Oliveira
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