quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

REENCONTRO COM TEXTOS QUASE PERDIDOS I


     Quero poucas coisas nessa vida de Meu Deus e do diabo; e por querê-las poucas quero-as muito. E de tão poucas que são, quero as mais intensas e difíceis de conquistar.
     As coisas coisa pouco me faltam, e o mínimo delas me satisfaz. A qualidade não importa, desde que cumpra sua função de utilidade. E se o belo é belo e me transborda o espírito, o meu se alegra em observá-lo, simples prazer ao percebê-lo, sem precisões de possuí-lo.
     As emoções são solitárias e bastam a si mesmas. Ao partilhá-las, muitas vezes não encontramos eco no outro, apenas uma leve brisa ante o vendaval que é apenas nosso.
     Somente a Beleza provoca o êxtase comum. E a Arte. Mas a arte se basta, não precisa de nada além de si mesma.
     O cerne do desejo cabe a cada um, e o meu que cá escrevo, é a felicidade dos que amo. Não a euforia do riso, corriqueira e vã esperança que lança cordas para o depois; mas a possível plenitude onde cada um possa se agarrar.
     Apesar da aparente generosidade, este é um bem-querer egoísta. Através dos vãos do amor clamo por minha liberdade e solidão. 
   Esqueçam de mim e sejam plenos. Mandem-me lembranças em lindos cartões com flores e gravuras dos meus pintores preferidos, poesias sem rimas, escritas com próprio punho e mais qualquer coisa boba que queiram de si me dar.
     Assim, sua fortaleza se tornará minha, sua alegria sorrirá em mim, e seu voo me permitirá percorrer sem amarras outras, os caminhos para dentro de mim mesma.
     Os ocultos, indecifráveis, que minha consciência nos seus porões  escondeu.


                       Tela de Franz Mortelmans - (1865/1936)
                                        Pintor Belga.
                            
                                Teresinha Oliveira.
  

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