quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

PRIMEIROS LIVROS


    Paixão sim. Insisto na palavra - não mania, costume, hábito . A paixão pelos livros nasce sem que nos apercebamos, e depois que nela enredamos nosso espírito não há como retroceder, dizer: não, não quero mais. Com seu quinhão de loucura a paixão finca pé e dela nos tornamos súditos.
    Meu enamoramento pelos livros começou quando eu, quase menina, senti através deles as emoções que minha vida me furtava. Eu tinha pressas em crescer.
    Não houve flertes, sussurros de biblioteca, interlúdios entre livros fininhos de amores cândidos. Mergulhei direto nas 600 páginas que me compraziam, e me entristeciam por
terminarem tão rápido ante meu voraz olhar leitor.
    Foi assim que hospedei-me no "Castelo do Homem sem Alma", o Hatter's Castle, e posso dizer que seu proprietário, Mr. Cronin, se revelou um digno e inesquecível anfitrião. Com ele percorri minas de carvão e hospitais, passeei pelas charnecas, e de livro em livro cheguei à China.
    Logo a China tornou-se meu país preferido e lá voltaria muitas vezes, mas à convite de outras pessoas.
    Mr.Cronin é uma pessoa por quem sinto profunda gratidão, porque de alguma maneira me abençoou. E num bem maior, apresentou-me à Pearl Buck, de quem logo fiquei íntima.
    Nosso amor pela China nos tornou amigas inseparáveis durante meses e meses. Onde uma ia, lá estava a outra. Outras amigas tiveram ciúme, mas eu não conseguia deixar a Pearl num canto qualquer, falando sozinha.
    Dessa amizade surgiu o meu encanto pela China e seu povo, e a paixão dentro da paixão de ler. Até hoje não deixo escapar nenhum título que me conte coisas de lá. Mesmo as coisas tristes, as mortes, a falta de liberdade, a revolução...
    A jovenzinha que entrava numa livraria de Icaraí, e por lá ficava horas olhando as prateleiras sem noção do que ou quem comprar, deixando a mesada inteira, rápido cresceu. Agora conhece cientistas, reis, assassinos, filósofos, toda a fauna humana... 
É confidente de poetas, e com alguns visionários e malucos já foi até às estrelas.


       Tela de Lord Frederick Leighton - (1830/1896)
                           Pintor Inglês.


                         Teresinha Oliveira    
                                           

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