segunda-feira, 21 de março de 2011

BICHO NOTURNO.

Essa saudade, do que não sei e sei, dói sensata
Sem ferir grande, por ser dor medida.
Se aquieta quando as portas tranco com sete chaves
Carregadas em fio no pescoço sem revelar
Os delírios que no ontem existiram
Mas hoje não se repetem mais, nem jamais.

  Essa saudade é bicho noturno, que de sede não morre.
Acha fonte no redor e de carcaça se alimenta.
Esperta como coruja, voa morcego que até a mim assusta
Ou nas árvores de perto finca garras como onça pintada.
Nela monto e fujo p'rá longe de mim
Cada vez mais sempre, deixando lá trás imagens de renda e cetim.

 Nem lembrança se aclara, que lembrança machuca.
Faz bolha que não fura, e queima como fogo na mata
Que rápido não se extingue
Bebe água que em baldes não tenho.
Quando o bicho venenoso, escorpião
Que em toca funda se esconde, na poeira alhures aparece
Com ira lhe esmago a cabeça sem perdão.
A saudade, que na escuridão se camufla
Logo foge em desatinos e me abandona.
Tola! Precisão de fuga não há...
Eu tão pouco bom tenho p'rá guardar.


Tela de Edgar Mendoza Mancillas
Pintor Mexicano
Nasc: 1967

Teresinha Oliveira. 

Um comentário:

bicho noturno disse...

Todos nós temos os nossos "bichos noturnos".É Tere...simplesmente surpreendente!