domingo, 20 de março de 2011

LIVRO DO DESASSOSSEGO - À BEIRA DO MAR.

 " Sofri em mim, comigo, as aspirações de todas as eras, e comigo passearam, à beira ouvida do mar, os desassossegos de todos os tempos (...)
E o que as almas foram e ninguém disse e o que os amantes estranharam um no outro, o que a mulher ocultou sempre ao marido de quem é, o que teve forma só num sorriso, ou numa oportunidade, num tempo que não foi esse ou numa emoção que nos falta. (...)
Somos quem não somos. Que lágrimas choraram os que obtiveram, que lágrimas perderam os que conseguiram.
Que mares soam em nós, na noite de sermos, pelas praias que nos sentimos nos alagamentos da emoção! Aquilo que se perdeu, aquilo que se deveria ter querido, aquilo que se queria, aquilo que se obteve e satisfez por erro, o que amávamos e perdemos, e depois de perder, vimos, amando por tê-lo perdido, que não o havíamos amado; o que julgávamos que pensávamos quando sentíamos, o que era uma memória e críamos que era uma emoção; e o mar todo ..."
        Bernardo Soares-Fernando Pessoa
             'O Livro do Desassossego'.
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   É assustador como certos autores e sentimentos rimam conosco; como alguns dos nossos velhos fantasmas que há muito são ossos e pó e só existam em tinta e papel, (ou aí realmente vivam), possam comungar nesse frenesi com as emoções alheias.
  Também durei horas incógnitas, na beira do mar e longe dele, muito longe às vezes, em alto de serras; e minha alma insensata teve o que queria e se satisfez no erro, erro crasso que paguei caro ao perder, não por ter perdido, mas por ter querido em princípio, antes por não saber.
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Tela de Henry Edward Detmold - (1854/1924)
                   Pintor Britânico.

                 Teresinha Oliveira.

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