A sala é pequena. Talvez o menor cômodo do casarão plantado no jardim mal cuidado, lá longe, no subúrbio da cidade. Aí encontrei, além dos amigos amantes de música, um piano quase centenário, mais antigo talvez, pois não revela ele sua idade em nenhum entalhe de seus recônditos, tal qual mulher vaidosa que esconde as muitas estações vividas em tecidos e batons, na vã tentativa de enganar o espelho e o próprio tempo, senhor implacável de todos nós.
Em rugas de madeira por ali foi ficando, como se não houvesse outro lugar; esquecida beleza no canto que lhe coube. Não perde a imponência nem a dignidade que a velhice lhe confere por sobreviver assim, nesse ângulo abandonado.
Santa Cecília, que dispensou apresentações por ser velha amiga, já desbotada pelo acúmulo de bençãos ofertadas, permanece quase invisível na gravura sem olhar para nós. Em atitude de prece se ocupa com os querubins que a cercam e seu piano, repleto de rosas, que parece dedilhar em devaneios, sem a mais nada dar atenção.
O sofá xadrez de vermelha cor me faz menina novamente, em meu quarto adolescente com quase igual sofá, onde passei noites claras lendo os livros que a cama, ciumenta, não deixava, logo me adormecendo em seus confortos.
O cheiro é antigo, aquele cheiro que toda casa de avó tem; mescla de coisa velha e carinho. Carinho de avó tem perfume: de flor seca, de camafeu, de imagem de santo, de remédio, de jóia de ouro, de retrato de morto, de pouco tempo, de gente que vive dentro da gente.
As notas de um violão dominam a saleta, mas soam ilógicas ante o magnífico piano que se cala em respeito. Santa Cecília permanece ocupada com seus anjos e orações.
Em rugas de madeira por ali foi ficando, como se não houvesse outro lugar; esquecida beleza no canto que lhe coube. Não perde a imponência nem a dignidade que a velhice lhe confere por sobreviver assim, nesse ângulo abandonado.
Santa Cecília, que dispensou apresentações por ser velha amiga, já desbotada pelo acúmulo de bençãos ofertadas, permanece quase invisível na gravura sem olhar para nós. Em atitude de prece se ocupa com os querubins que a cercam e seu piano, repleto de rosas, que parece dedilhar em devaneios, sem a mais nada dar atenção.
O sofá xadrez de vermelha cor me faz menina novamente, em meu quarto adolescente com quase igual sofá, onde passei noites claras lendo os livros que a cama, ciumenta, não deixava, logo me adormecendo em seus confortos.
O cheiro é antigo, aquele cheiro que toda casa de avó tem; mescla de coisa velha e carinho. Carinho de avó tem perfume: de flor seca, de camafeu, de imagem de santo, de remédio, de jóia de ouro, de retrato de morto, de pouco tempo, de gente que vive dentro da gente.
As notas de um violão dominam a saleta, mas soam ilógicas ante o magnífico piano que se cala em respeito. Santa Cecília permanece ocupada com seus anjos e orações.
Eu, sentada no sofá xadrez penso no mágico que inventou a música... Um batedor de tambor da velha África ou algum anjo entediado com o silêncio, que afinou as cordas de sua harpa e saiu tocando pelos céus?
Tela de Gustave Leonhard de Jonghe - (1829/1893)
Pintor Belga
Pintor Belga
Teresinha Oliveira - Setembro/1998
3 comentários:
Boa tarde. Será possivel dizer-me o nome do quadro que está neste post?
Obrigada.
Anônimo, infelizmente não tive o cuidado de anotar o nome do pintor, mas como sempre visito vários blogs de arte, com certeza o encontrarei por aí. Não esquecerei! Anotarei aqui assim que reencontrá-lo. Abraços.
Certo. Muito obrigada :)
Continuação de uma boa semana.
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