Que jeito simpático tens. Um jeito todo teu, sem extremos de beleza ou sofisticação. Mas se és mesmo de taboa, desconfio. Talvez o vendedor tenha se enganado entre tantas fibras e trocado teu nome; mas tal não me aborrece. Depois que te olhei e gostei de ti, tanto faz quem foi tua mãe.
Prometes o conforto dos vegetais, mas também as coceiras do mato onde nascestes, pântanos e lagoas; já me contaram que és desses cantos longe.
Desculpa, mas esta lembrança é deveras pertinente. Claro que não é nenhum problema insolúvel, e quem sabe uma manta a te vestir, evite a sensação de mil formigas a passear sobre o corpo daquele que te procura, já com o cansaço a pinicar os ossos.
Outro porém surge agora. Tal qual mulher, deves exigir cuidados para não perder a beleza: nódoas de vinho de quem já treme a terceira taça, manchas de suor de algum sentante exausto - aquele que todos desconfiam ser diabético por viver pingando os incontáveis litros da água que bebe em sua insaciável sede - queimaduras dos fumantes crônicos, como eu, sua pretensa dona, ou, o perigo maior e mais assustador, os estragos da traquinagem das crianças.
Sim, há muitas por aqui, acompanhadas por suas mães distraídas e falantes, que ao visitar a casa alheia, soltam seus pimpolhos como num campo de guerra. Só encontram paz para seus fuxicos quando seus pequenos soldados bombardeiam o território amigo.
Sinto muito, minha quase poltrona. Não tenho forças para te salvar de todos.
Pensando bem, isso não me entristece. São muitos cuidados para apenas sentar, por mais que eu te queira bem e te deseje por aqui.
Melhor sentar no chão, como os velhos sábios indígenas, que da terra sugavam sabedoria.
Quem sabe tenha sobrado um pouco para mim.
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Teresinha Oliveira - (Maio/2008)
Um comentário:
Nossa, nunca antes me perguntei sobre a árvore genealógica dos meus assentos! rs
Se bem a conheço, por mais convidativa q seja a poltrona, é ao chão q preferes estar.
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