quinta-feira, 17 de março de 2011

MENDIGO EM PRETO E BRANCO.

    Meu estômago doeu com o impacto do soco inesperado.
Gastou tempo a dor para serenar no comum dos dias.
Pior que toda dor que quando dormida passa, essa não passou
  Devido à crueza do fato ou à atônita incompreensão
Ante o empavonado senhor da cena.
Dote da tosca beleza a me sensibilizar em paradoxos.

Beleza na fotografia em preto e branco do velho mendigo
Com sua caneca para tostões, de paletó roto e largo 
Em pose de lorde sentado nas escadas de alguma igreja da cidade.
Se não fosse ele mistura bendita dos gens desse nosso povo
Que desdenha a tez em horas de amor desejado
Crioulo, louro, mameluco, caboclo ou mulato
Juraria ser ele um lord inglês decadente, caído de um zepelim mágico
Que contaminado pelas misérias de nossas ruas sorri no papel.
Não o sorriso aguado da pobreza nos lábios abstratos
Mas um sorriso doce, quase infantil, de quem chupa bala de caramelo.

O fidalgo desconjuntado, com suas tralhas e troços a compor o cenário
Se exibe para o fotógrafo que com sensibilidade nos olhos e na pele
Foca com lente medida o momento, ângulo e personagem.
Registra, sem cores para dar alívio
A devastadora imagem desse ser abandondado na geleira urbana
Que empareda os desvalidos nas ruas do por aí.

Teresinha Oliveira.

3 comentários:

Anônimo disse...

A devastadora imagem desse ser abandondado na geleira urbana: define a foto.

muito bom!

Alicia disse...

Há tanta alma interessante por aí...

Anônimo disse...

Teu olhar é cheio de poesia.