Tela de James C. Christensen. |
Vou pegar um barco e sair sem destino escolhido, por mar ou rio. Não precisa ser grande meu barco, em muitos pés medidos; alguns dedos me bastam pois não vou para mar aberto ou rio que em cachoeira cai.
Baleias, tubarões, piranhas e outros dentes ferozes me assustam. Protagonistas de pesadelo. Baleia tem dente? Acho que não e nem peixe é, mas engole do mesmo jeito, pelo menos é o que nos conta há séculos a Bíblia. Pobre Jonas!
No barquinho vou remando em passeio de domingo. Vou levar um casaco grosso para frio inesperado, comidinhas que sozinhas se conservem, água... Levar água cercada de tanta? Mas beber salgada dá alucinação, e não preciso de mais além das que já tenho sem bebê-la, e a de rio pode ser contaminada com a sujeira dos homens.
Vou descendo ou subindo, disso ninguém sabe, porque maré de sal sempre sobe e desce, ou enche e esvazia se preferirem. E rio, onde começa ou acaba é mistério, que só gente que mora à beira dos grandes desse meu país tem conhecimento.
Nasce na foz ou é lá que termina?
Bússola não tenho e nem preciso. Meu norte já desapareceu na rosa dos ventos que pela vida burlei.
Vou para um rio, só nesse momento decidi. Mar é velho amigo, não me guarda novidades. Perto dele nasci e passei infância. O doce, meu paladar mais aprecia e suas correntezas me trazem mistério.
Mergulho remo e sigo. Faço curva sem curiosidade do que vou encontrar, porque curva é assim mesmo, esconde o depois p'rá fazer surpresa, se boa ou má só desdobrando.
Quem pode jurar de pé junto e dedo cruzado que na ribeira, sentado a pescar, não esteja o pescador que no sal sempre procurei ?
Tela de Dmitry Yakovin.
Teresinha Oliveira.
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