quarta-feira, 7 de setembro de 2011

BOI CIUMENTO.

Fim de semana esticado, com feriado caído do céu, sempre animava Ester e sua família, que prontamente escolhiam um lugar para viajar; mesmo que tal lugar fosse, e disso já sabiam de antemão, uma cidade no meio do mato sem confortos ou uma praia de mar violento, onde mal se conseguia molhar o dedão do pé e cujo sol pinicava na pele clara, que logo em vermelho- camarão ardia, sem pomada que desse jeito. 
Para lá partiam, fugindo do pequeno apartamento onde viviam se esbarrando nos poucos metros que a cada um cabia.
O carro era velho, mas sempre levava e trazia do destino escolhido.
Malas, lanches, gasolina, pneus cheios, água caso a sede apertasse, documentos e mais todas as tralhas necessárias para a viagem ser divertida e tranquila.
Numa estradinha de terra, perto de Deus nos Acuda, algumas vacas decidiram bloquear o caminho dessa gente animada. Os meninos gritaram, e nada. O marido motorista buzinou, e nada. As vacas olharam com aquele olhar de desprezo com que toda vaca olha para os seres humanos e permaneceram imóveis no lugar.
Ester, num momento de inspiração, usou sua voz de cantora da noite, poderosa contralto, e emitiu um Muuuu...que agitou as vacas e as fez sair da estrada.
Todos riram e prosseguiram.
Outra vez, outra viagem e o Muuuu... de Ester infalível se revelava. Já era patrimônio da família.
Porém, como 'Tudo na vida tem seu fim' ou 'Não há bem que sempre dure',
numa dessas viagens para algum Casca Prego qualquer, lá estavam outras vacas em outra estradinha de terra, que dessa feita exigia mais vagar pelos profundos buracos que a chuva cavara no chão.
Sem pestanejar, Ester abaixou seu vidro e cantou o já rotineiro Muuu... E as vacas, como sempre, saíram do caminho. Mas ela deve ter mugido com a nota errada, talvez um convite para o cio bovino;  porque um touro que, felizmente distante pastava, afiou os cascos no chão e partiu enciumado na direção deles.
Tão célere corria e bufava que no carro ninguém riu. Saíram o mais rápido que puderam das vistas do bicho bravo, que até espumava em sua ira. 
Mas pagaram por isso, porque o carro de tanto cair em buraco fundo e sacolejar, foi parar numa oficina mambembe na cidadezinha de fim de mundo.
Sem nada a fazer no vilarejo onde se viram presos, passeavam a pé, e durante muito tempo gastaram sapato e opinião discutindo sobre o que dera errado naquele Muuuu... fatídico.


Tela de John Lopez.

Teresinha Oliveira.
Baseado em uma História Real !


Um comentário:

Jorge Sader Filho disse...

Eita! Este muuuuuuu foi de mal jeito. Quem mandou abusar?

Beijo,
Jorge