quarta-feira, 6 de abril de 2011

A TERRA DOS PAPÉIS PERDIDOS




Existe por aí, uma oculta vivenda
Ostra, que para onde, num soluço de tempo
Os papéis voam e se acomodam hóspedes silenciosos.
Não mais se movem, ou exalam cheiro
Nem mesmo a maresia da ostra onde estão.
O gentil escritor, que cada palavra escolheu e ali guardou
Roga aos seus fantasmas e pássaros
Auxílio nessa espalhafatosa saga de revirar gavetas e chãos.
Teme, e quase intui, que suas folhas de grafite borradas
Viajaram ao encontro das meias solitárias e dos brincos sem par.
Se acreditasse nesses seres invisíveis que dizem existir
Pensaria ser deles tal obra, entes mágicos
Que riem e brincam ante a confusão alheia.
Porém há muito abandonou os sacis e as mulas de cabeças decepadas
Lá na infância, madrugadas sem luz, sítio longínquo
Também desistiu de dar pulos para São Longuinho
Sua fé anda fraca, e sem fé nenhuma montanha se move
Nem se abre, como milagre, as portas de onde os papéis se esconderam.


           Tela de Anne- Bochelier.

            Terê Oliva

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