Eu sou melhor quando:
Sem nada mais a fazer
Bordo um poema claro como água
E vivo levemente
Como quase sem viver.
E sou melhor quando:
Brinco com as crianças.
São tantas...
Eu mais uma.
Olho para a minha gata lá da Pérsia
Que com seu jeito felino de não amar
Acaricia minhas mãos.
Devolvo o bom-dia aos vizinhos
Que passam na manhãzinha nascida
Indo comprar pão.
Leio um de meus livros massudos.
Seiscentas páginas
Tão bom que economizo o final.
Vejo filme velho na tv.
Aconchego, família, travesseiros, cobertor.
Todos deitados no chão.
E sou melhor quando:
Como pizza sábado à noite.
Queijo, orégano, variados sabores e risos
Apetite voraz, disputando mais gordos pedaços.
Passeio olhando vitrines
Sem dinheiro
Também sem vontade de nada comprar.
Rego minhas bromélias em flor
Sedentas, prenhas de gêmeos
Com os cálices pela gulodice do sol esvaziados.
Abro o tarô, que finjo ler, para alguma amiga.
Incenso de almíscar, cristais
Sorte no amor chegando depressa.
Durmo sem sono.
Preguiça grudenta, imóvel
No lençol limpo, trocado no dia.
E sou melhor quando:
Corto os cabelos curtinho.
Fio de navalha, igual quinze anos
Rosto de menina guardado na memória.
Recordo um passado azul.
Outra cidade, colégio de freiras, irmãos
Gargalhadas compartilhadas.
Dirijo bem devagar, vinte por hora
Na direita
Saboreando nas ruas o verão.
Ouço enquanto preparo o almoço
Os contos dos filhos, acrescidos de pontos
Sobre os amigos, colegas de escola.
Varro a calçada cedinho.
Safra abundante de amêndoas
Trabalho saboroso de todo dia.
E sou melhor quando:
Seco a água da boca em canecas de chopp
Mexilhões com molho de mostarda picante
No fim de tarde, lá no Leblon.
Sorrio para algum desconhecido simpático
Velho hábito
E o sorriso retribuído é largo.
Bebo café com cheiro
Vapor de imediato preparo
Que ao redor se espalha.
Acordo os meninos para as aulas
Clareando manhã de luz e frio.
Coração de amor a doer.
Desmarco a hora do dentista.
Convincente desculpa, branca mentira
Adiando a dor para a semana seguinte.
E sou melhor quando:
Choro e rio na sessão das duas, cinema vazio.
Melhor programa, drama romântico
Sozinha, comendo sucrilhos da caixa inteira.
Ganho presente inesperado, sem motivo
Inutilidade em lindo papel
Só beleza para lembrar do carinho anos a fio.
Mato o mosquito que zune no ouvido
Tapa certeiro, felicidade fugaz
Menos um entre milhões.
Almoço domingo na casa da mãe.
Berinjela e macarrão com direito à histórias
Antepassados de outras fronteiras.
Sinto frio, pés gelados, muito frio.
Inverno perverso
E calço meias tricotadas por mãos, em lã.
E sou melhor quando:
Escrevo boa poesia ao acaso, inspiração.
Sem suor, no primeiro papel ao alcance
Completa, desnecessários retoques.
Podo minhas árvores
Pela seiva enlouquecidas.
Galhos narcotizados para o lado errado.
Brigo sem disfarçar a ternura
Com minha cadela alemã, cabisbaixa
Por ter rasgado o jornal.
Mergulho as mão nuas na terra fértil
Sem nojos, minhocas, baratinhas
Vida entre meus dedos pulsando.
Recebo carta de alguém
Saudade com boas notícias
Caídas do céu de muito longe.
E sou melhor quando
Sem nada mais a fazer
Rabisco tão longo poema
- E muitos versos omiti -
Somente para contar
Que é bom viver levemente
Como quase sem viver.
Tela de James C. Christensen - (1942)
Pintor Americano.
Teresinha Oliveira
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br
Safra abundante de amêndoas
Trabalho saboroso de todo dia.
E sou melhor quando:
Seco a água da boca em canecas de chopp
Mexilhões com molho de mostarda picante
No fim de tarde, lá no Leblon.
Sorrio para algum desconhecido simpático
Velho hábito
E o sorriso retribuído é largo.
Bebo café com cheiro
Vapor de imediato preparo
Que ao redor se espalha.
Acordo os meninos para as aulas
Clareando manhã de luz e frio.
Coração de amor a doer.
Desmarco a hora do dentista.
Convincente desculpa, branca mentira
Adiando a dor para a semana seguinte.
E sou melhor quando:
Choro e rio na sessão das duas, cinema vazio.
Melhor programa, drama romântico
Sozinha, comendo sucrilhos da caixa inteira.
Ganho presente inesperado, sem motivo
Inutilidade em lindo papel
Só beleza para lembrar do carinho anos a fio.
Mato o mosquito que zune no ouvido
Tapa certeiro, felicidade fugaz
Menos um entre milhões.
Almoço domingo na casa da mãe.
Berinjela e macarrão com direito à histórias
Antepassados de outras fronteiras.
Sinto frio, pés gelados, muito frio.
Inverno perverso
E calço meias tricotadas por mãos, em lã.
E sou melhor quando:
Escrevo boa poesia ao acaso, inspiração.
Sem suor, no primeiro papel ao alcance
Completa, desnecessários retoques.
Podo minhas árvores
Pela seiva enlouquecidas.
Galhos narcotizados para o lado errado.
Brigo sem disfarçar a ternura
Com minha cadela alemã, cabisbaixa
Por ter rasgado o jornal.
Mergulho as mão nuas na terra fértil
Sem nojos, minhocas, baratinhas
Vida entre meus dedos pulsando.
Recebo carta de alguém
Saudade com boas notícias
Caídas do céu de muito longe.
E sou melhor quando
Sem nada mais a fazer
Rabisco tão longo poema
- E muitos versos omiti -
Somente para contar
Que é bom viver levemente
Como quase sem viver.
Tela de James C. Christensen - (1942)
Pintor Americano.
Teresinha Oliveira
Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br
Um comentário:
A pintura que mais gostei daqui, linda linda, nossa. Adorei de verdade.
E muitos versos omiti :)
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