quinta-feira, 28 de abril de 2011

ARTESÃ DE PALAVRAS.

     Gosto das palavras, como as pessoas que gostam de selos, de moedas, de caixas de fósforos, e chegam a colecioná-los  aos milhares. Palavras, para sorte desse amor, não ocupam espaço, e se acomodam amigavelmente, ordeiras, no dicionário. 
     Contam histórias nos livros, algumas sábias se unem com talento, outras nem tanto, e mesmo as desperdiçadas pelos escritores medíocres não são culpadas pela presunção de seus senhores.
      Não pretendo escalar as cordilheiras literárias: sou uma pessoinha frágil que não sobe nem no morrete da esquina, não tem cordas e ainda por cima sofre com tornozelos fracos e pulmões manchados de nicotina. Fico por aqui mesmo, no sopé da encosta, lugar seguro, a catar pedrinhas,  palavras que guardo. Vez por outra descubro uma pepita nobre, cujo significado desconheço, mas de tão bonita que é, merece casa e comida enquanto me espera voltar; e eu sempre volto.
    Sou uma artesã de palavras, e as deixo escapar preguiçosamente entre meus dedos e ideias sem cuidados, por preguiça, cansaço, ou por desacreditar no meu minúsculo dom de criá-las irmãs.
     Com palavras se constroem catedrais seculares, e se pintam obras-primas, e se esculpem no mármore verdades que atravessam  a idade do homem. Como um vendaval  que varre as etapas da civilização, desde as pinturas nas cavernas, do grito do homem primitivo ao abater sua presa ou na conclusão do ato do amor, até hoje, ao jorrar de incontáveis fontes de linguagem digital, elas se oferecem dóceis e surpreendentes à nossa sedução.
   O que nos contam ? Tudo e nada. Como em qualquer amor, cabe ao ser amante, como eu, descobrir-lhes a magia.


Obra de Silvana Cimieri - 'O Livro Azul'- Pintora Italiana.
          Óleo sobre tela - 50x70 cm.
Teresinha Oliveira  (Abril/2007)


Um comentário:

Anônimo disse...

e se esculpem no mármore verdades que atravessam a idade do homem.