sexta-feira, 8 de abril de 2011

AFEIÇÕES SUPERFICIAIS-Fernando Pessoa

" Em mim todas as afeições se passam à superfície, mas sinceramente. Tenho sido actor sempre, e a valer. Sempre que amei fingi que amei e, para eu mesmo finjo."

Fernando Pessoa - Livro do Desassossego►261

   Também me constrange esse lago parado, cujas águas refletem o rosto que não vejo no espelho.
  A afeição é hábito adquirido, personalidade dos bem-humorados, nada mais.
Na borda sobrevive, mas aí se basta. Em larga extensão não permite profundidade maior.
   As profundezas são para poucos, bem poucos na verdade. 
Gente que  num  barco perto navega e sabe que a linha do horizonte é além do que se vê.
   Mas meu amor, mesmo parco é real, e misterioso como uma gargalhada de criança ou o olhar de um cão. 
  Querido amigo, o teu desassossego não tem fim, e o afeto fingido nem a ti mesmo convence. 
Lamento este estranho jeito de não sentir, próprio dos que  são dóceis diante da vida. 
Febril sonâmbulo que nada mais  desperta.
   

Tela: Carl Spitzweg (1808/1885) - Pintor Romântico Alemão.

                 Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br


3 comentários:

JasonJr. disse...

Adorei a pintura! Ótimo final de semana minha querida!

Teresinha Oliveira disse...

JASON- Também me apaixonei por ele. Se quiser ver a tela em detalhes, é só clicar sobre ela.
Bom de semana prá você também.

JasonJr. disse...

Costumo fazer isto mesmo. :D
A do post acima também é maravilhosa!!!