quinta-feira, 7 de abril de 2011

PINÓQUIO.

Gosto muito do Pinóquio. Sempre o escolho como personagem infantil preferido nas conversas bobas entre amigos, quando qualquer outro assunto morre e se quer ficar junto. Ou quando as meninas discutem em defesa de suas amadas princesas da Disney, modelo minúsculo e sem linhagem que restou do rico mundo das histórias de Andersen ou dos Grimm.
Analisando hoje, talvez gostasse dele por suas imperfeições, e agradecê-lo devo por não abusar da mentira. Permaneço nas irrisórias: como dor de garganta para fugir do dentista ou trânsito insuportável no atraso da festa. Das grandes, permaneço inocente. Tenho medo que meu nariz cresça e me revele a todos.
Ao meu primeiro cachorro batizei com seu nome.
Estava eu no meu quarto de criança, seis ou sete anos, brincando com coisas de menina quando escuto meu pai gritar meu nome com sua voz de surpresas. Ao pular na cama e abrir as lâminas da janela, deparo-me com aquela coisinha preta enroscada em seu colo. -É seu! 
Abandonei os brinquedos e o livro "Pinóquio"  que estava lendo, e nem me dei ao trabalho de cruzar cômodos para chegar ao quintal. Transpus a janela com um salto e agarrei meu cachorro, sem raça, sem pedigree, sem nome. Um vira-lata como tantos, abandonado pelas ruas da cidade. Mas não precisava ser mais para eu amá-lo com esse inexplicável amor da infância pelos bichos.
Bastavam suas orelhas pontudas e seus olhos assustadiços que não sossegavam ao mirar os meus. Fez xixi em mim, disso nunca esqueci, mas otimista desde então, encarei aquilo como sinal de sorte.
Até hoje tenho desses sortilégios: quebrar taça é sinal de sorte, derramar açúcar é coisa boa anunciada. Só me livrem do sal, que é briga na certa, e para aniquilar a mandinga só jogando três punhados para trás sobre o ombro esquerdo. Sobre o direito não vale, apenas o esquerdo corta o mal.
Assim, mesmo molhada e ouvindo discurso de mãe sobre banho, higiene, pulgas, micoses e carrapatos,  só  dava atenção ao meu pai herói que, paladino dos cães estropiados, suportava o ralho sozinho. 
-"Você tem que escolher um nome para ele." -Pinóquio! Gritei sem um segundo de hesitação. Ele combinava com o livro sobre a cama, com o quintal, com meu pai, comigo.
Querido Pinóquio, que morreu velhinho, quase gente, sem nunca ter me contado uma mentira.

Tela de Vécu (Valéry Quitard) - Pintora Francesa
Óleo - 35x25 cm

Teresinha Oliveira.         



3 comentários:

AFRICA EM POESIA disse...

Tambem eu gosto muito deste pinóquio

Um beijo


Volte sempre.

Crise
O mundo caminha
Por ondas e ciclos...
O mundo caminha
Para a queda...

Porque a família
Não está...
Porque a família
Perde a força...

E a sociedade humana
Por diversos factores
Tem muita gente imatura...

Sem união familiar...
Sem amor...
Sem gosto pela vida...

A crise rapidamente...
Fica instalada!...

LILI LARANJO

JasonJr. disse...

Eu ri muito! :D Isto é bom :D

Ana Cecília Moura disse...

Vc é cult demais. Sempre achei a história do pequeno de madeira muito chata. =)

Lááá no fundo, uma veiazinha perversa ficava a torcer por um ataque de cupins. rs

Mas a sua história é bem boa, e deu para perceber que o nome escolhido para o companheiro não poderia ser mais apropriado.