quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

É MUITO BOM SER FEIA

Lanço agora, na frente do espelho do quarto e com o álbum de fotografias sobre a cama, uma nova e estranha filosofia: é muito bom ser feia.
As bonitas assim o nascem, em tez, cabelos e olhos. Disso estão certas desde que a consciência desperta. Crescem tendo a confirmação do fato. Nos encontros familiares sempre escutam, desde o doloroso apertão nas bochechas até a entrega do diploma final: - "Nossa! Cada vez mais bonita". Outra tia velha arremata: - "Desde pequenininha foi muito bonita."
Os pais e avós, caso tenham sobrevivido ao amadurecimento da belezura, agradecem aos elogios, como se fossem seus gens os diretamente responsáveis pelo fato.
O tempo, cruel servidor da natureza, corre mais rápido que as passadas da beleza, e ela lá atrás vai ficando. 
Em alguns momentos mágicos quase o alcança, e revive seu carisma num brilho de olhar, num longo vestido de festa, numa alegria que a todos cerca e contagia.
Porém o ilusório não sustenta o real. O reflexo no espelho conta a verdade, embora dentro da sua cabeça sempre seja a outra que existe. Ninguém envelhece dentro de si mesma, ou tem rugas ou dor nas juntas ou dentes fora do prumo ou cabelos sem viço...
A tristeza é que quando tão bonitas e jovens, não acreditam que o são, e desperdiçam esse momento, ou dele não usufruem como bem poderiam.
As feias são as engraçadinhas da família. Todos mantêm a esperança de que, a cada aniversário ela enfeite a si mesma. Mas qual...
Existem algumas para quem, nem mesmo as mais piedosas almas conseguem mentir. Se eram engraçadinhas, agora são bonitinhas.
Como a vida é mestre em ironias, as feiosa, muitas e muitas vezes, são as mais felizes dentre tantas.
Casam-se com sujeitos bonitões que flagrantemente as amam, ficam ricas, constroem carreiras de sucesso, viajam mundo afora, dirigem carros importados e, nas festas de reencontro da escola, exibem os filhos lindos, educados, sem aparelho nos dentes e que nem de psicóloga precisam.
Tenho ímpetos de matar novamente o Vinícius, ao recordar o poetinha dizendo: "Beleza é Fundamental".
Para quê, pergunto eu.


Desenho de Evgenia Sarkisian Saré - (1959)
Pintora e Desenhista Armena 
"Ballerine"

Terê Oliva
   
  

2 comentários:

Maria José Speglich disse...

Infelizmente vivemos nummundo de aparências. O que vale é o que se vê. O que se tem. Imagem e pouco conteudo.

Abraços.

Ana SSK disse...

em consonância com o meu post de hoje no Significantes, Teresinha!

A feiúra tb tem a sua beleza, tal como a tristeza.

Até a rima ficou feia...rs