segunda-feira, 11 de julho de 2011

BOM-DIA ÀS FORMIGAS


Hoje acordei insuportavelmente bem-humorada.
Irrito até a mim mesma ao me flagrar cantando canções que nem sabia conhecer. Nessa cantoria abusada emendo um dois pra lá, dois pra cá, e mesmo sem o torturante band-aid no calcanhar, saio saracoteando através dos cômodos, sujos e desarrumados desde que a empregada me abandonou pelo muito trabalho e parco salário.
Afinal, atravessar os meses e anos com a verba espremida não é problema novo. Bons empregos são raros, e todos que tentei se revelaram um fiasco; como ricos e generosos ex-maridos é privilégio de poucas, engrosso a procissão daqueles que juntam moedas de um real para, na hora do porquinho gordo, ousar uma extravagância qualquer.
Assim tola, assim animada, decido ser hora de colocar mãos à obra 
Lembro-me do vestido de bolinhas, lindo e caríssimo, que me espera há 10 quilos atrás no armário. Tá certo que alegria não emagrece, mas quem sabe não turva o olhar e esconde o que não é bonito de se ver?              Não! Também já estava na hora de livrar-me dele! Dando o antigo se abre espaço para o novo, digo a mim mesma ao me despedir do meu vestido de bolinhas e de quase metade do meu guarda-roupa. Circular energia é ideia recente, tem jeito de livro de autoajuda e talvez funcione. Algum conselho desses sábios modernos que embolsam milhões deve dar certo.
 Tomada de circulante generosidade esvazio armários e gavetas.
O céu continua azulzinho como o amor na música do Djavan; o sol espanta o frio e me leva até o jardim onde florezinhas bobas nascem e atraem uma solitária borboleta amarela. Tudo romanticamente idiota. Logo vislumbro a tênue linha que por pouco não transpus, caindo de quatro na pieguice total.
Aos poucos a vida vai chegando... Paro de dar bom-dia às formigas, (coisa que realmente me assustou), de conversar com as plantas, de cheirar folha de samambaia, e de achar bonito meu muro sujo com as inúmeras mãos coloridas das crianças.
Porém, o real só pulverizou mesmo a doentia felicidade quando abri a conta do telefone.
Digna de uma gargalhada final.

Tela de Andre Kohn
Pintor Francês

Terê Oliva
http://tereoliva.blogspot.com.br
                                            

2 comentários:

JasonJr. disse...

...eu ri com o azuzinho...
:D porque será :D rs

Anônimo disse...

Voltei, minha amiga!