quinta-feira, 4 de agosto de 2011

AO DOBRAR DO BIG BEN

Quando vi o aparelho de chá, em formas sinuosas e originais, com um quê artístico que só os gens herdados por Claude Picasso poderiam desenhar, embrulhei-o para presente na minha imaginação.
Caixa elegante, envolvida por papel com sotaque estrangeiro, em tons de rosa, também chá, pálido como a fragrância que borrifo no cartão que declara meu carinho e exige presença ao convite para a estréia. 
Que tarde se decide depois.
Os bules, xícaras e açúcares formam uma imagem onírica emergindo da fumaça branca sobre o palco da mesa. A prata que o arremata em contorções, faísca no arroubo estético que o define.
As folhas que servirá deverão apresentar igual quilate, pois é impensável que em porcelana de tal beleza repouse o comum. O comum é para os comuns.
A arte, onde se manifestar, pede um observador sensível para percebê-la, e aqui no caso, também sorvê-la nos perfumes e sabores.
Tarefa difícil será escolher as folhas adequadas a completar o presente. Tantas frutas e temperos e matos, criam redemoinhos na cabeça de qualquer comprador inexperiente.
Pedirei conselhos, pois os chás tem também seus ferrenhos amantes; como os vinhos, cujos costumazes bebedores transformaram até o estudo da cortiça das rolhas em teses quase filosóficas.
Quanto à pessoa que vai receber tal agrado, motivo final de tanto esmero, nada me preocupa. 
Uma fina percepção da beleza marca sua personalidade, que muitas vezes se camufla entre coisas triviais, jeito encontrado de melhor viver a rotina do possível.
Porém com certeza, ela sentará à mesa quando o sino do Big Ben soar cinco da tarde.

Tela de Igor Belkovski  (1962)
Pintor Russo Contemporâneo.

Terê Oliva

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